A Agência Soma noticia que “numa entrevista para um dos mais importantes programas da televisão brasileira, o Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, 21/9, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, teve um debate acalorado com os jornalistas sobre temas relacionados à sua espiritualidade evangélica. Debateu ensino de criacionismo nas escolas, aborto, conquista do voto “evangélico”, descriminalização da maconha e células-tronco”.
Relata ainda, que, ““Obscurantista” foi um dos termos usados para definir o conjunto de posições defendidas pela possível candidata à Presidência pelo Partido Verde (PV), num debate que esquentou em diversos momentos, com manifestações de irritação tanto por parte da entrevistada quanto de alguns entrevistadores. “O Estado é laico”, pregou uma jornalista. Marina concordou plenamente, mas acrescentou que ser laico não impede que pessoas de qualquer confissão de fé possam liderá-lo”.
Como se percebe, Marina Silva terá um duro e longo caminho até a disputa oficial das eleições presidenciais de 2010. Em todos os programas e entrevistas que participa, invariavelmente ela é chamada a responder sobre aborto, transgênicos, células tronco, descriminalização do uso da maconha e, é claro, sobre o ensino do criacionismo nas escolas públicas. Evidentemente, tudo isso ocorre em razão de Marina ser tachada de conservadora ou, como afirmam alguns, de obscurantista, tendo em conta suas posições firmes sobre temas polêmicos.
Observa-se, sem devaneios, que antes de ter uma batalha político-eleitoral pela frente, Marina Silva terá de enfrentar antes de tudo uma guerra ideológica. Em outras palavras: antes de apresentar sua proposta de governo, será obrigada a demonstrar que os elementos de sua forma de ver o mundo não levarão o país a um retrocesso. Isto é, para a mídia, o ônus da prova é dela, e não dos liberais.
Por um lado, isso é bom. Afinal, coloca em evidência e em discussão temas importantes até então analisados somente por um prisma. Por outro, comprova a falta de lógica da pós-modernidade, em que os conservadores, e não os liberais, são aqueles que precisam provar por A mais B que não provocarão danos para a sociedade em razão de sua idéias.
Nesse contexto surge a indagação: será que Marina levará adiante essa imagem de conservadora?
Essa parece ser uma zona cinzenta para a candidata (ou não?). Em matéria recente, o Estadão noticiou que “num sinal de que vai trabalhar para se desvencilhar da imagem conservadora nas eleições de 2010, a senadora Marina Silva (PV-AC) negou na segunda-feira, 21, que tenha defendido publicamente o criacionismo, propôs a realização de um plebiscito sobre a descriminalização do aborto e afirmou que nunca teve uma posição radicalmente contrária aos transgênicos. Evangélica, Marina é missionária da Assembleia de Deus e acumula em seu currículo batalhas como o combate à Lei de Biossegurança, que regulamentou o uso de transgênicos, e pesquisas com células-tronco no Brasil“.
De antemão, estou com Silas Daniel ao afirmar que a candidatura de Marina Silva é uma das grandes notícias positivas das eleições de 2010 porque, ainda que ela não ganhe, sua presença, além de elevar o nível dos debates presidenciais do próximo pleito, desestabiliza ainda mais a candidatura Dilma Rousseff. De igual modo, admiro muito a postura de Marina de ser totalmente avessa a qualquer espécie de “messianismo” em torno do seu nome. E também, como Silas Daniel, posso ainda hoje não concordar com todos os posicionamentos da irmã Marina, mas, no geral, ela parece estar mais madura e equilibrada em relação a algumas posições outrora radicais que parecia assumir, o que nos traz alegria. De sorte que vejo-a “anos luz” à frente da maioria dos possíveis candidatos do ano que vem à presidência da República.
De outra banda, é preciso ponderar acerca de até que ponto irá a candidata para mudar a visão que a mídia tem dela. É preciso fugir do radicalismo, não há dúvidas, entretanto, é preciso muito cuidado também para não amoldar o discurso ao interesse da maioria de forma que se caia na vala comum. Não me parece ser essa a intenção de Marina, mas, sempre é bom deixar isso anotado, para que não tenhamos uma nova “garotinha evangélica”, se é que me entendem.
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