Por: Valmir Nascimento Milomem
John Stott escreveu um livro que deixariam muitos cristãos perplexos e estupefatos. Em “Crer é também pensar” Stott analisa a importância da mente na vida cristã e explica o motivo pelo qual o seu uso é tão importante para os cristãos, e como se aplica em aspectos práticos de suas vidas. Faz ainda um vigoroso apelo aos cristãos para mostrarem uma devoção inflamada pela verdade.
Afirmo que muitos cristãos ficariam perplexos e estupefatos, pois no inicio de seu trabalho Stott afirma que o “espírito de anti-intelectualismo é corrente em nosso dia, o que segundo ele, no mundo moderno multiplicaram-se os pragmatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?”, mas sim: “Será que funciona?”.
Com efeito, este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Fazendo-a descrer da importância tanto do ensino teológico sistematizado quanto da educação secular, aduzindo, portanto, que presenciamos a “miséria e a ameaça do cristianismo de mente vazia”.
Na visão de Stott, o cristianismo de mente vazia é o resultado de igrejas que direcionaram suas ações somente para três áreas distintas: o ritual, em que uma cerimônia religiosa é um fim em si mesma; ação social, cuja preocupação unicamente são assuntos ligados a fome e violência; ou, somente na experiência, em que se faz da experiência metafísica a única razão de ser cristão.
Esse cenário é propício para o surgimento de cristãos inconscientes; os quais não compreendendo as verdades bíblicas e o cerne do pensamento cristão, são desprovidos do caráter e da mente de Cristo. Cristãos desvirtuados e indiferentes para com a obra de Cristo, e, por fim, crentes resignados e “igrejistas”, cujo horizonte vai até onde termina o átrio da sua congregação.
Gostaria sinceramente de contestar o ponto de vista de John Stott. Gostaria de escrever nesse espaço que ele está equivocado. Que as coisas não são bem da forma como ele disse.
Que o cristianismo não está de “mente vazia”. Que não existe “espírito de anti-intelectualismo”. Que cristãos inconscientes, indiferentes e resignados são raros. E por, fim, gostaria de provar tudo isso, demonstrando que a Igreja investe tanto na educação bíblica quanto na secular.
Mas não tem como. Não quero ser hipócrita. Não tenho argumentos para desbancar as idéias de Stott. Não tenho provas para refutá-lo, muito menos testemunhas. Por isso, sou obrigado a concordar com ele. Devo aceitar suas denúncias.
Para comprovar que ele tem razão, basta observar que anualmente a igreja realiza quase uma dezena de festividades para os mais variados departamentos/setores. Nesse sentido, têm-se festas de jovens, adolescentes, crianças, circulo de oração, novos convertidos, encontros de casais, e aniversários diversos, nos quais são despendidas altas quantias de dinheiro para a oferta de preletores, cantores e demais despesas necessárias para o custeio de tais eventos. Em contrapartida, pouquíssimas vezes são realizados eventos relativo à educação cristã. Encontros que tenham como foco discutir assuntos atinentes ao ensino. Congressos que busquem a capacitação de professores e o aperfeiçoamento daqueles que acabaram de adentrar ao ministério do ensino. Simpósios que abordem técnicas de ensino e métodos para a excelência da ministração. Em último caso, e, se sobrar tempo, o máximo que se faz é improvisar um reuniãozinha extraordinária após a escola dominical num domingo qualquer, cujos participantes não vêm a hora do amém!
Ainda, tem-se o caso do investimento em construções de templos suntuosos, instalação de condicionadores de ar, cortinas, computadores, assentos, bem como outras aquisições; ao passo que pouco se investe em construção de salas de aula, aquisição de quadros, pincéis, materiais didáticos e outros correspondentes, a fim de melhorar o ensino sistematizado da Bíblia Sagrada. Eis que nesse caso, o investimento parece não ser conveniente.
Verifica-se, portanto, que poucos líderes já se conscientizaram acerca da importância do ensino na igreja. Poucos compreenderam que o investimento em educação é o melhor empreendimento que podem fazer para o bem das ovelhas. Por isso, o sistema de ensino religioso evangélico permanece na sua grande maioria com um estilo arcaico, medíocre e desorganizado, com poucas inovações com vistas a organizar o setor educacional.
O cristianismo de mente vazia é resultado exatamente dessa falta de investimentos em educação cristã. Na inexistência de ações voltadas para a completa formação dos seguidores de Cristo. Na exata medida em que a Escola Dominical é jogada para escanteio e considerada somente como mais uma reunião extraordinária. Na mesma proporção em que o ensino sistematizado e permanente da Palavra de Deus e o incentivo para o estudo secular são deixados de lado.
A importância da educação cristã
Leve-se em consideração que a Igreja enquanto agência divina possui três funções básicas: Evangelização, adoração e ensino. Entre esses papeis não existe aquele que possua maior ou menor grau de importância, todos são preponderantes. Porém, é exatamente o ensino o responsável por dar qualidade aos demais.
Assim, evangelização sem ensino é o mesmo que jogar a semente sem, no entanto, regar com água. Adoração sem ensino é pura cantoria sem propósito. Em suma, cristianismo sem ensino é ritualismo. A educação cristã, portanto, é relevante para a formação do caráter cristão e para a afixação da consciência espiritual. A educação cristã promove o conhecimento de Deus e seu amor presente em Cristo. Ela dá condições de preparo e desenvolvimento a seus membros para desempenharem o seu serviço do Reino.
Evidentemente, o investimento no setor educacional da igreja é investimento na formação do caráter cristão; é o empenho no sentido de formar discípulos conscientes acerca do seu papel no Reino de Deus, bem como da sua função no meio social.
Ademais, o ensino, quando bem ministrado, capacita o cristão a pensar. E o pensamento é uma atitude fundamental para a sobrevivência de todo seguidor de Cristo.
Para corroborar, leve-se em consideração que o aprendizado é baseado em três ações principais: conhecimento, pensamento e atitude. O conhecimento é o conjunto de informações que possuímos. Pensamento é a forma de analisar e refletir acerca dessas informações. Atitude, por conseguinte, é quando utilizamos tais informações para determinado fim. Conhecimento, pensamento e atitude são como peças de um quebra-cabeça. Incompletas sozinhas. Perfeitas unidas.
O conhecimento bíblico só é importante se for praticado. A prática só é correta se for refletida. E o pensamento, por sua vez, só será válido se for baseado num conhecimento verdadeiro, direcionado a uma atitude louvável. Aquele que possui somente conhecimento é uma enciclopédia. Aquele que somente pensa é racionalista. Aquele que somente age é um fanático. Mas, aquele que conhece, pensa e age é inteligente. No caso do cristão, será um cristão consciente. O pensamento é, então, o elo entre o conhecimento e a atitude. É a ponte que promove a ligação entre dados disponíveis e ações possíveis. Em outras palavras, é a razão de ser do conhecimento bíblico, na medida em que transforma dados em ações concretas. Converte folhas de papel em comportamentos.
Assim, quando os cristãos param de pensar, estamos diante de um sério problema. Sabe qual é? Outras pessoas pensarão por nós. Isso é natural e automático. E uma coisa é certa, o mundo está pensando. Ele não pára de maquinar. Suas reflexões estão a todo vapor. Suas ideologias estão em franco crescimento. Seus pontos de vistas antibíblicos ganham mais adeptos dia após dia. E nós, cristãos evangélicos, o que estamos fazendo? Preparando-nos para a próxima festividade? Estamos pensando o evangelho? Investindo em estudos? Ou comprando computadores?
Baseado nisso…
Se quisermos que os cristãos sejam conscientes e comprometidos com a principal finalidade do
Reino de Deus, é melhor investirmos em educação. Se quisermos que os membros da igreja tenham pleno envolvimento acerca do seu papel em meio à sociedade secular, é melhor investirmos em educação.
Se quisermos que a igreja saia dos casulos templários e cause o impacto do evangelho na sociedade, é melhor investirmos em educação. Se quisermos que a alienação espiritual de muitos crentes dê lugar à compreensão da salvação da alma, é melhor investirmos em educação. Se quisermos sermos vistos como sal da terra e luz do mundo, é melhor investirmos em educação.
Por outro lado…
Se quisermos que os cristãos sejam alienados, inconscientes, insossos, apagados, descomprometidos, sem propósitos, igrejistas, resignados, indiferentes e desvirtuados, é simples: Não invista em educação. Esqueça o ensino. Despreze a Escola Bíblica Dominical! É por essas e por outras que, parafraseando Içami Tiba, digo: Igreja que ama, educa!
Concordo plenamente da importância de buscarmos o conhecimento. Acredito que a igreja que não tem uma visão reflexiva do seu real papel, ela se deixa levar faclmente por modismo e doutrinas que não estão focadas na igreja Cristocêntrica.
Gostei muito do artigo. Também acredito que a educação é fundamental para o crescimento espiritual da igreja. Precisamos estudar mais a bíblia.
Infelizmente o antiintelectualismo é ainda
comum em muitas igrejas. Isso em nada ajuda o
Reino de Deus. O antiintelectualismo mata, mas
o Espírito vivifica!
Que Deus nos dê graça para podermos ir contra essa onda de anti intelectualismo e misticismo contrários
aos principios Cristãos…parabéns Pastor Valmir.
Que Deus o abençoe!!!
menagens para a igreja
EXCELENTE!
Li também esse livro de Stott recentemente…
Infelizmente é uma grande realidade que vivenciamos hoje.
Gostaria de saber se posso reproduzir esse texto e colocá-lo nas pastas de um seminário que estaremos realizando agora, sábado dia 15 de setembro, na nossa igreja AD em Itaperuna, interior do RJ.
Aguardo resposta o MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.
Obrigada!
Ana Paula,
Autorizamos a reprodução do texto conforme solicitado.
Somente pedimos, se possível, que nos envie um modelo da pasta que será confeccionada.
paz
Valmir
Sabe, irmãos, este é o ponto inicial na minha ressurreição com Cristo: Perguntar por quê? O povo judeu só fazia as contidas na lei, apesar de não estarem fazendo nada de errado (lei é lei), sem simplesmente perguntar ao sacerdote, ao doutor da lei, ao escriba, etc, se era correto tudo o que faziam. Quando os profetas, como joão Batista, aparecem no cenário, condenando tudo que faziam, o povo ficava em situação difícil, pois aprenderam tudo aquilo desde criança (intimes teus filhos… ). Entendo que o menino Jesus fica no templo só perguntando “por quê?”. No começo suas perguntas foram deliciosas aos doutores, pois tinham respostas. Chegou o momemto, tenho certeza, que suas respostas acabaram, e sua adimiração é notada, pois ninguém nunca teve coragem ou ousadia de fazer tais perguntas e tais colocações. Penso eu: “Por que vocês entimam as crianças na lei? Por… E por que?… Por que?…”. Hoje estou como o menino Jesus, cheio de dúvidas. Graças a Deus, que Ele sempre me dá a resposta, coisa que não consegui obter, nem em perguntas ao ICP. Então, não sejamos inúteis. Façamos algo que não ficou escrito. Excedamos. Perguntemos sempre: Por quê?
diacers@yahoo.com.br
Como servo de Deus no ministério do ensino, tenho observado que a cada ano diminui o interesse pelo estudo bíblico.
Vivemos um tempo de urgência. A sociedade afasta-se rapidamente de todos os padrões morais com conseqüências assustadoras para todos. A igreja não está imune a esta crise e se não “renovarmos a nossa mente” na Palavra, seremos inevitavelmente “amoldados ao modo de pensar do mundo” — com conseqüências igualmente assustadoras!
Nunca houve na história do cristianismo uma igreja que tenha progredido sem o estudo sério da Palavra de Deus. Na verdade, não se pode esperar nada de uma igreja, se não houver um sólido ministério de ensino da Bíblia, pois todas as demais práticas cristãs decorrem de amadurecimento dos crentes no conhecimento de Deus — aí incluídas as células, as reuniões de oração e intercessão, o culto de adoração, missões e evangelismo, assistência social e etc. Tudo é resultado, mas parafraseando o apóstolo Paulo, “como conhecerão, se não houver quem ensine?”
O ministério de ensino foi estabelecido como prioridade da igreja pelo próprio Deus. Foi Ele que concedeu mestres à igreja — juntamente com os outros ministérios especiais — para “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” a fim de que a igreja alcance a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus, a perfeição, a medida da estatura completa de Cristo (cfe. Ef 4. 11-15). Portanto, não há liberdade humana para alterar estas prioridades, se queremos uma ser igreja de acordo com a vontade do Senhor.
Diz-se que temos que ter odres novos – estrutura – para conter o vinho novo – a Palavra. Porém, é bom lembrar que o vinho é mais importante que o odre. Se não for assim, corremos o risco de ter muito odre para pouco vinho. E mais, corremos o risco de perder a herança conquistada a alto preço pelos irmãos da “Primeira Reforma” — o ensino da Palavra a todos os crentes a fim de que todos sejam ministros e sacerdotes. Sola Scriptura!
Digo tudo isto como alguém que tem lutado para levar a sério a fé cristã e esmurrado minha própria preguiça para um andar diário com o Senhor, firmado nos fundamentos da sua Palavra.
Tive uma experiência muito triste e marcante em minha vida, pela inexperiencia da época, sofri muito, pela curta e estreita visão da liderança da Igreja fui disciplinado por que pura e simplesmente me viram vestido de saco, pintado e com a cabeça raspada. Apesar de saberem que isto devia-se ao “trote” na época obrigatório não fui perdoado.
Escutava diretamente nos cultos, nas “pregações doutrinárias” acusações as mais descabidas. Minha esposa nas reuniuões do circulo de oração de que eu estava errado, que não era preciso estudar, que Deus proverá, que eu ficaria orgulhoso, que não ficaria no meio dos simples e por afora. O dirigente da época foi na minha casa, à noite, quando eu estava na escola deixando o recado sobre a minha disciplina.
Fiquei afastado da Igreja alguns anos, depois passei a congregar em outros locais.
Creio que isto, infelizmente, em alguns locais ainda acontecem, prejudicando não somente os jovens, que já são poucos incentivados no estudo, também afetam o proprio crescimento da Igreja, pois mais do que nunca não podemos prescindir do preparo para alcançar determinados segmentos da população.
Isto aconteceu comigo em 1.977, consegui me formar, consigui conquistar melhores posições na Empresa, ajudei muitos dos filhos de meus criticos a entrar onde eu trabalhei e me aposentei.