por Valmir Nascimento
Jesus concluiu a metáfora do sal e da luz em Mateus 5.13-15 enfatizando o propósito final do testemunho relevante dos discípulos diante dos homens: “ (…) para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”. Resta evidente que a dupla simbologia empregada pelo Mestre diz respeito ao testemunho cristão no mundo. A expressão “diante dos homens” é importante e reforça uma vez mais a natureza social da missão confiada aos discípulos. As boas obras levam à glorificação, não dos discípulos, mas do Pai que está nos céus. Afinal, a igreja não foi chamada para estar em evidência ou para ser aplaudida, e sim para honrar e glorificar a Deus!
Se a essência da metáfora é o testemunho dos crentes, somos levados a conectá-la com a promessa de Jesus acerca da descida do Espírito Santo, conforme registrada em Atos 1.8: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.
Para o Pentecostalismo, a promessa de Jesus cumpriu-se no dia de Pentecostes (Atos 2) e desde então o dom do Espírito, o Batismo no Espírito Santo, e os dons espirituais estão disponíveis à igreja para testificar o Reino de Deus. Nas palavras de Byron Klaus, “No dia de Pentecostes, passou a existir uma comunidade carismática como a residência primária do governo de Deus. Os crentes podiam ir adiante na sua declaração do Reino, porque o Cristo chegara a todos eles mediante o Espírito” . Agora, prossegue Klaus, “passariam a ser testemunhas do governo de Cristo, e ressaltariam com palavras e ações o caráter e o poder autorizados do Rei” . Com efeito, “O Pentecostes é a chamada de Deus aos seus filhos para serem purificados interiormente, e para serem revestidos de poder para testemunhar” .
Dessa maneira, a eficiência e a amplitude do ser-sal-e-luz depende do revestimento de poder do Espírito Santo. Isso porque, o Pentecostalismo bíblico não corresponde a uma visão espiritualista da fé, que leva à fuga da realidade presente. Se considerarmos adequadamente o Pentecostalismo à luz das Escrituras, notadamente a partir de Atos dos Apóstolos, veremos que a crença pentecostal implica também em uma reflexão sobre o ser-no-mundo. Byron Klaus expressou que “A koinõnia criada pelo Espírito, a proclamação que Jesus é Senhor e Salvador, e o ministério compassivo de servo produzem, no seu conjunto, um testemunho poderoso ao ministério de Jesus Cristo” .
Por esse prisma, a relevância cristã na sociedade é o resultado direto do testemunho dos crentes no poder do Espírito Santo de Deus. Em acertadas palavras Klaus disse: “O testemunho diante do mundo é a operação prática de nossa participação na missão de Deus: a reconciliação com o mundo. Proclamamos e demonstramos o caráter compassivo e o poder autoritativo de Cristo, que já irromperam nesta era”. Mais que isso, “(…) damos testemunho das boas-novas de que Jesus ama os pobres, os doentes, os famintos, os endemoninhados, os fisicamente torturados, os emocionalmente feridos, os destituídos de amor e até mesmo os auto-suficientes”.
Este testemunho advém da dimensão experiencial e capacitadora da vida no Espírito. É a presença real, pessoal e efetiva de Deus no meio do seu povo que nos possibilita salgar a terra e iluminar o mundo. Eis aqui o distintivo pentecostal em um mundo de pluralismo religioso: temos fome de Deus e da sua presença! Muito mais que o estudo especulativo e teórico da divindade, queremos uma experiência viva com o Senhor, que se expressa vitalmente no dia a dia. O teólogo pentecostal Gordon Fee asseverou com propriedade que o Espírito capacita a vida ética em todas as suas dimensões – individualmente, dentro da comunidade e no mundo. “Os crentes em Cristo, que, mais do que qualquer outra coisa, são o povo do Espírito, são descritos de variados modos como aqueles que vivem pelo Espírito, andam no Espírito, são guiados pelo Espírito, dão o fruto do Espírito e semeiam para o Espírito” .
Embora não seja um teólogo pentecostal, N. T. Wright parece trilhar esse mesmo pensamento ao interpretar a passagem de João 16.8-11. Consoante Wright: “(…) quando o Espírito vier fazer o que Jesus descreve aqui, a igreja não ficará de braços cruzados, vendo tudo acontecer. Não, o modo como o Espírito provará que o mundo está errado será por meio de nós e de nosso testemunho. Esta é uma parte de nossa vocação celestial. Não fazê-lo é o mesmo que extinguir o Espírito” .É significativo observar, por fim, que o símbolo do batismo com o Espírito Santo e do Pentecostalismo é o fogo, em alusão a Atos 2.3.
Além de aquecer, a chama irradia luz. Consequentemente, a espiritualidade pentecostal não se restringe a um gueto; ela é capaz de impactar o mundo no poder do Espírito Santo e fornecer uma visão distinta sobre a sociedade, iluminando-a.