Uma mensagem de esperança em tempos de pandemia


Em tempos de pandemia, quando o medo, a ansiedade e a desesperança tomam conta da vida das pessoas, é tempo de perceber a fragilidade dos projetos humanos  e relembrar a força da esperança cristã.

A pandemia do Covid-19 tem demonstrado a um só tempo que a ciência tem as suas limitações, que o dinheiro não consegue dar propósito para a vida e que o ser humano carece de algo muito mais profundo e significativo para dar segurança e sentido ao existir, além da política, da economia e do consumismo, cujos fundamentos desmoronaram terrivelmente com a propagação do vírus.

Longe de aceitar o negacionismo científico, a postura apolítica ou rejeitar por completo a importância da economia, essa visão simplesmente coloca as coisas nos seus devidos lugares, ao demonstrar claramente que nenhum desses elementos são capazes de dar esperança, pois simplesmente constituem elementos importantes da vida, mas não são suficientes em si mesmos.

O grande problema é que o homem moderno elevou tais categorias à posição de veneração, tornando-as verdadeiros ídolos. E agora, a fé na ciência, na política e na economia se vê em ruínas.

É tempo de resgatar o sentido cristão da esperança. Não uma esperança infantil, tola e religiosamente centrada. Refiro-me à virtude teologal sobre a qual falaram (e viveram) os pais da Igreja primitiva, que ajudou os crentes a enfrentarem a perseguição, a dor e até mesmo a morte com uma confiança inabalável depositada no coração.

Não me refiro à esperança como o ato compassivo da espera, mas à atitude encontrada no interior do verbo esperançar, que nos fornece disposição para viver o dia de hoje com ânimo e propósito.

Também não me refiro à esperança como mero otimismo humano. Enquanto este se firma na autoajuda e no pensamento positivo de que “tudo dará certo”, a esperança cristã se sustenta pela confiança em Deus e no seu trabalho por – e em – nós.  A curto prazo, o otimismo humano pode até proporcionar alguns benefícios, mas, assim como o efeito placebo, sua eficácia é restrita e psicológica, pois não proporciona cura verdadeira. A esperança cristã é uma convicção profunda, mas decorrente de uma vida totalmente renovada e curada pela graça divina.

A esperança firmada em Cristo e na sua cruz nos dá direção e firmeza para navegarmos pelo mar de incertezas deste mundo. Clemente de Alexandria comparava o cristão vinculado à cruz de Cristo com Odisseu, o herói da poesia épica de Homero, que – após tapar os ouvidos de seus companheiros com cera líquida – se amarrou ao mastro do navio, para assim poder ouvir sem perigo as sereias, que com seu canto, seduziam todos os homens, levando os navios a se chocarem contra a praia. Amarrado ao mastro ele estaria livre de qualquer perdição. Igualmente, quando o homem se agarra a Cristo e ao mastro da sua cruz, quando – como diz Paulo – “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”, então ele pode ouvir todas essas vozes do mundo sem medo de que elas o confundirão e o desviarão do caminho. Cativos ao madeiro podemos chegar ao porto seguro!

A esperança cristã é aquela que anda abraçada com outra virtude teologal: a fé. Tomás Halík captou isso ao escrever que “a fé e a esperança deveriam sempre andar de mãos dadas, assim como os apóstolos Pedro e João caminharam até o túmulo vazio na manhã da Páscoa; talvez a esperança dê preferência à fé, para que ela olhe para dentro do túmulo e diga o que vê. Mas devemos lembrar que a esperança corre mais rápido e é a primeira a chegar no destino” (Não sem esperança, p.69).

Em tempos de crise, mais ainda, é tempo da esperança caminhar de mãos dadas com a fé, a fé no Cristo.

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