Pentecostalismo e Pós-modernidade, de César Moisés Carvalho


O teólogo pentecostal Gary McGee escreveu que alguém, certa vez, comentou que o “Pentecostalismo é um movimento à procura de uma teologia, como se não estivesse ele radicado à intepretação bíblica e à doutrina cristã”. Embora McGee não tenha concordado com a afirmação, é preciso questionar sobre o tipo de teologia o movimento Pentecostal estaria à procura. Se for uma teologia racionalista e antissobrenatual, do tipo que rejeita a atualidade dos dons e a experiência do Espírito, certamente não há sequer necessidade de sair em sua busca, muitos menos achá-la; por outro lado, se estamos falando de uma teologia genuinamente pentecostal, que valoriza a sua Tradição focalizada no mover do Espírito, então a assertiva talvez tenha um certo sentido.

Por esse prisma, o Pentecostalismo é em grande medida um movimento à procura de uma teologia que honre o seu histórico e suas premissas fundamentais, precisamente a crença na atuação divina nos dias de hoje de modo real e não meramente em palavras. Tal procura é legítima, visto que, além de revelar um ato de humildade – diante da profundidade daquilo que se busca, destaca a identidade própria e distintiva do movimento, cuja preocupação sempre foi privilegiar a prática e o dinamismo da vida no Espírito, em detrimento da sua teorização.

Até onde posso sintetizar, esta é a tônica de Pentecostalismo e Pós-modernidade: quando a experiência sobrepõe-se à Teologia (CPAD, 2017), obra do amigo teólogo César Moisés Carvalho, na qual propõe uma reflexão teológica distintamente pentecostal para tempos pós-modernos. Como nos faz saber o autor, a obra é composta de textos anteriormente escritos e que revelam duas fases na sua perspectiva teológica: A primeira contém material produzido entre 1999 e 2010, redigido “sob influência substancial da teologia reformada” (p. 13); a segunda, reúne textos de 2011 para cá, “e não mais se subordinam ao pensamento reformado, mas procura ressonância com as doutrinas mestras do cristianismo, sem necessariamente se preocupar com a ‘aprovação` epistemológica do referido grupo”.

Tal explicação é essencial. Além de esclarecer ao leitor a dualidade que encontrará na obra, fruto de mudanças conceituais e de paradigmas epistemológicos ao longo dos anos, mostra também a honestidade intelectual característica do autor. Antes de discutir dogmas e doutrinas, César Moisés reflete sobre background teológico, isto é, sobre o pano de fundo do pensar teológico e seus pressupostos, colocando tudo em cartas limpas. Isso por si só vale a pena a leitura.

Pentecostalismo e Pós-modernidade é questionadora, crítica, reflexiva e propositiva. Ela questiona o medo evangélico da pós-modernidade; critica a teologia manuelista, reformada e racionalista; reflete sobre a importância da experiência para o movimento pentecostal e propõe um modelo de hermenêutica distintamente pentecostal. Todo este conjunto, entretanto, não é feito no vácuo. Pesquisador nato e escritor vigoroso, César Moisés nos oferece material de fôlego resultante de ampla pesquisa bibliográfica, com quem o autor, em tom dialógico, ora assente, ora confronta, tanto no corpo do texto quanto nas inúmeras notas de rodapé que constam do escrito.

Se o movimento pentecostal, como afirmei no início, está em busca de uma teologia, então Pentecostalismo e Pós-modernidade contribui sobremodo para esta procura. A obra de César Moisés não é importante somente porque aborda a Teologia Pentecostal, é importante porque ajuda inaugurar, ao menos em nosso país, uma nova forma de estudar esta vertente teológica, buscando aliar rigor acadêmico com a crença na experiência e no mover do Espírito. Fora do Brasil esse tipo de reflexão já teve iniciou com autores como Amos Yong, James Smith, Keneth Archer, Roger Stronstad, Gordon Fee, Robert Menzies, Frank Macchia e Bradley Noel, por exemplo. Após ter lido alguns desses autores posso dizer que César Moisés escreve à altura de um avivamento pentecostal acadêmico. Em muitos aspectos, a obra de Pentecostalismo e Pós-modernidade se alinha ao que há de mais atual na reflexão teológica carismática global, a indicar convergência de entendimento.

Tais palavras, no entanto, não significam que as questões postas em discussão em Pentecostalismo e Pós-modernidade estejam fechadas. Aliás, considerando o tom com que a obra foi escrita penso que “palavra final” não é a expressão que melhor a defina. A obra de César Moisés é, antes de tudo, um chamado ao diálogo, ainda que às vezes confrontador, para que os pentecostais reflitam sobre suas crenças fundamentais neste tempo presente. É nesse sentido que pretendo, oportunamente, ingressar em um diálogo mais aprofundado sobre as injunções ali expostas.

Com base em tais palavras, Pentecostalismo e Pós-modernidade é leitura essencial para qualquer cristão, especialmente para pentecostais, clássicos e reformados.

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1 comentário

  1. Muito bom lermos obras da teologia pentecostal redigido por escritores di Brasil temos muitas obras escritas por Americanos e alemães. É bom termos agora obras fa teologia pentecostal escrita por homens de no Brasil com grande sabedoria e transparência no entendimento .

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