Um breve conceito de cosmovisão


O termo é uma tradução da palavra alemã weltanschauung, que significa “modo de olhar o mundo” (welt – mundo, schauen – olhar), ponto de vista ou concepção de mundo. De acordo com Albert Wolters, este termo tem a vantagem de ser claramente distinto de “filosofia” (ao menos no uso alemão) e de ser menos enfadonho do que a frase “visão do mundo e da vida”[1]. Em poucas palavras, é um conjunto de suposições e crenças que utilizamos para interpretar e formar opiniões acerca da nossa humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade e questões sociais. É como um mapa mental que nos diz como navegar de modo eficaz no mundo[2].

Conforme explica Nancy Pearcey, “cosmovisão não é um conceito acadêmico e abstrato. O termo descreve nossa procura por respostas às questões intensamente pessoais com as quais temos de lutar – o clamor do coração humano na busca de propósito, significado e uma verdade grande o bastante pela qual viver. Ninguém pode viver sem um senso de propósito e direção, um senso de que a vida tem significação como parte da história cósmica”[3].

A cosmovisão de uma pessoa é a soma de todas as suas crenças básicas, o conjunto de ideias que dá o direcionamento no seu modo de vida.

Uma das pesquisas mais abrangentes sobre o significado do termo foi elaborada pelo autor estadunidense James Sire, em seu livro Dando Nome ao Elefante[4]. Depois de apresentar os conceitos propostos por pensadores cristãos como James Orr[5], Abraham Kuyper[6], Albert M. Wolters[7], Ronald Nash[8] e David Naugle[9], Sire apresenta aquilo que ele chama de sua definição refinada de cosmovisão:

(…) cosmovisão é um comprometimento, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expressa como uma história ou um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser total ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas), que detemos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade e que fornece o alicerce sobre o qual vivemos, nos movemos e existimos.[10]

Em O universo ao lado[11] Sire explica resumidamente cada parte do seu conceito:

Cosmovisão como comprometimento. Uma cosmovisão envolve a mente; porém, é, acima de tudo, um compromisso, uma questão de alma. É uma orientação espiritual mais que uma questão de mente apenas. De acordo com Sire cosmovisões são, na verdade, uma questão de coração. O conceito bíblico de coração inclui: sabedoria (Pv. 2.10), de emoção (Ex 4.14; Jo 14.1), desejo e vontade (ICrs 29.18), espiritualidade (At. 8.21) e intelecto (Rm 1.21).

Expressa como uma história ou um conjunto de pressuposições. Sire destaca que uma cosmovisão não é necessariamente um conjunto de pressuposições, mas pode ser expressa dessa maneira. Quando refletimos a respeito de onde viemos ou para onde vamos, a nossa cosmovisão se expressa por meio de uma história. Pode ser uma história contada a partir do ponto de vista naturalista, que se inicia no Big Bang, ou a partir da visão cristã, na qual o nascimento, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo constituem o fundamento central.

Pressuposições que sejam verdadeiras (total ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas), conscientes (ou subconscientemente) e consistentes (ou inconsistentemente). De acordo com Sire, as pressuposições que expressam o comprometimento da pessoa podem ser plena ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas. Significa dizer que a pessoa pode desenvolver pressuposições que não sejam verdadeiras, sem se dar conta disso. Em um mundo que não aceita a existência de uma verdade absoluta, o papel da apologética cristã é exatamente apontar as incoerências das cosmovisões não cristãs. Além disso, as pressuposições podem ser conscientes ou inconscientes,

O alicerce sobre o qual vivemos, nos movemos e existimos. Em geral, assegura Sire, nossa cosmovisão repousa tão profundamente entremeada em nosso subconsciente que, a não ser que tenhamos refletido longa e arduamente, não temos consciência do que ela é. Nessa perspectiva, Schaeffer diz que todas as pessoas têm seus pressupostos, e elas vão viver do modo mais coerente possível com estes pressupostos, mais até do que elas mesmas possam se dar conta[12].

[1]WOLTERS, Albert M. O que é cosmovisão?. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/cosmovisao/cosmovisao_wolters.htm. Acesso em 14 de abril de 2013.

[2] PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o Cristianismo do seu cativeiro cultural. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 25

[3] PEARCEY, Nancy, p. 61

[4] SIRE, James. Dando nome ao elefante: cosmovisão como um conceito, tradução Paulo Zacharias e Marcelo Herberts. Brasília: Editora Monergismo, 2012, p. 48-67.

[5] “Cosmovisão é a visão mais ampla que a mente pode ter das coisas num esforço de compreendê-las como um todo, do ponto de vista de alguma filosofia ou teologia em particular”.

[6] De acordo com Abraham Kuyper cosmovisão é sistema de vida abrangente. Toda cosmovisão, sustenta Kuyper, deve tratar de “três relações fundamentais de toda a existência humana: a saber, nossa relação com Deus, com o homem e com o mundo”.

[7] “Cosmovisão é a estrutura abrangente das crenças básicas de uma pessoa sobre as coisas”.

[8] “Conjunto de crenças mais importantes da vida… [é] um esquema conceitual pelo qual, consciente ou inconscientemente, aplicamos ou adequamos todas as coisas em que cremos, e interpretamos e julgamos a realidade”.

[9] “Cosmovisão na perspectiva cristã implica que os seres humanos são imagem e semelhança de Deus e estão ancorados e integrados no coração como a esfera subjetiva da consciência que é decisiva para moldar uma visão de vida e cumprir aquela função tipicamente atribuída à noção de weltanschauung”.

[10] SIRE, James. Dando nome ao elefante, p. 179.

[11] SIRE, James: O universo ao lado: um catálogo básico sobre cosmovisão [tradução Fernando Cristófalo]. 4a. Ed. São Paulo: Hagnos, 2009, p.16.

[12] SCHAEFFER, Francis. Como Viveremos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 10.

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