por Valmir Nascimento
Terminei há pouco a leitura do livro de Dan Ariely “A verdade sobre a desonestidade” (Elsevier, 2015). Em suma, as diversas pesquisas empreendidas pelo autor evidenciam um princípio bíblico basilar: Todos temos uma tendência natural para a desonestidade.
Desculpe-me se você ficou ofendido com essa afirmação, mas ninguém escapa. Na teologia, chamamos isso de depravação humana.
A obra de Ariely inova na medida em que comprova essa inabilidade humana a partir de uma série de pesquisas acadêmicas em torno da trapaça. Entre as conclusões de Ariely estão:
– O senso de nossa própria moralidade está interligado com a frequência de trapaça com a qual nos sentimos confortáveis. Essencialmente, trapaceamos até o nível que nos permite manter a nossa autoimagem como a de indivíduos razoavelmente honestos.
– Por um lado, queremos nos ver como pessoas honradas e honestas. Queremos nos olhar no espelho e nos sentir bem em relação a nós mesmos. Por outro, queremos nos beneficiar com a trapaça e conseguir o máximo de dinheiro (e benefício) possível.
– Para assegurar o equilibrio entre esses dois interesses, entra em ação a flexibilidade cognitiva: desde que trapaceemos somente um pouco, podemos nos beneficiar com a trapaça e ainda nos vermos como seremos humanos maravilhosos.
– Esse equilibrio é o processo de racionalização: a “teoria da margem da manobra”. Busca-se manter a linha tênue, segundo a qual podemos nos beneficiar da desonestidade sem prejudicar a nossa autoimagem. Lembre-se da Declaração do Imposto de Renda…
– Desse modo, a capacidade de racionalização, o conflito de interesses, a criatividade, um ato imoral inicial, o esgotamento físico e mental, outros se beneficiando da desonestidade, observar outros se comportando desonestamente e uma cultura que dá exemplos de desonestidade são alguns fatores que aumentam a desonestidade.
– A infidelidade é um exemplo típico de desonestidade (conjugal). A tendência à infidelidade depende, em grande extensão, de conseguir justifica-la para si próprio. Começar com pequenas ações (talvez um beijo) é outra força que pode levar a tipos mais profundos de envolvimento com o tempo. Estar longe da rotina habitual, por exemplo, em um passeio ou em outra localidade, pode ampliar ainda mais a habilidade de justificar a si próprio a infidelidade.
– Enquanto isso, o juramento, o compromisso anteriormente assumido, os lembretes morais e a supervisão, ajudam a evitar o comportamento desonesto. Lembretes morais sugerem que nossa disposição e tendência para trapacear poderiam ser diminuídas se recebêssemos constantes recordações sobre padrões éticos.
– Com base na Teoria da Janela Quebrada a desonestidade pode ser minorada com o conserto dos problemas quando ainda são pequenos, punindo pequenas ações delituosas e antiéticas. Se você conserta imediatamente cada janela quebrada (ou outros maus comportamentos), outros possíveis infratores estarão muito menos propensos a se portar mal.
Segundo Ariey, na Roma antiga, sempre que os generais que acabavam de conquistar uma vitória marchavam pela cidade exibindo seus despojos. Marchavam usando roupas cerimoniais, uma coroa de louros e tintura vermelha no rosto quando eram conduzidos em um trono por toda a cidade. Contudo, para que não se ensoberbecessem, um escravo caminhava ao seu lado sussurrando reiteradamente: “Memento mori”, que significa “Lembre-se de que você é moral”. Por isso, Ariely sugere: “Lembre-se de sua falibilidade”.
Tudo isso, como já disse, tem respaldo nos pressupostos subjacentes da cosmovisão cristã. Ao ler o livro de Ariely lembro-me da nossa condição humana falível e da propensão natural à desonestidade (Rm 7.19,20). Em outras palavras, as Escrituras continuam atuais como nunca, mais atual que os livros de economia e psicologia comportamental do nosso tempo.