por Valmir Nascimento
“Você tem dado atenção suficiente aos seus filhos? Cuida da saúde? Consegue cumprir todas as metas no trabalho? Leva uma vida sustentável? Faz algum tipo de trabalho voluntário? Tem investido na sua capacitação profissional? São poucas as pessoas que conseguem responder a todas essas questões com um sonoro e convincente sim. Entre as que dizem não, muitas se sentem invadidas por uma sensação de decepção consigo mesmas. E do incômodo inicial nasce um sentimento mais perene, profundo e complexo: a culpa. Culpa por não ficar com os filhos, por não fazer atividade física nem se alimentar direito, ou por deixar para depois aquela pós-gradução ou curso de línguas que iria impulsionar a carreira. A culpa é uma incômoda companheira da contemporaneidade.”
Assim inicia a matéria de capa da revista Isto É, edição n.º 2112, com o título “Não carregue todas as culpas“. Segundo a matéria, vivemos numa sociedade que cobra perfeição na vida pessoal e profissional, e as pessoas se sentem cada vez mais exigidas.
Dentro desse cenário, a revista cita “os dez fardos mais pesados na contemporaneidade”, que vai da culpa paterna, presente em pais e mães que gostariam de passar mais tempo com os filhos, até a culpa do consumo, sentida por aquele que sai para comprar um produto específico, mas acaba levando mais do que deveria.
É interessante a forma como a revista reverbera o entendimento do senso comum sobre o que seja a culpa: uma simples espécie de inadequação social refletida e cobrada no âmbito psicológico do indivíduo. Vejamos, por exemplo, a denominada culpa alimentar, apontada como o sentimento daquele que gostaria de ter uma alimentação mais variada, mas não consegue. Sente culpa por se alimentar mal e, de certa maneira, maltratar o corpo.
Culpa psicológica ou moral?
Observo que grande parte da pregação do evangelho atual segue o mesmo padrão desse tipo de culpa evidenciada pela matéria, com contornos de terapia psicológica. Nesse sentido, a igreja é apresentada como um grande divã para a reabilitação daqueles que a procuram por causa da depressão ou do sentimento de culpa do passado.
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Rm. 3.23
Ocorre que pela Bíblia o homem não tem [somente] culpa psicológica, mas culpa moral. Culpa psicológica é um problema subjetivo do indivíduo que pode ser resolvido por meio de terapia. A culpa moral, por outro lado, é o estado decaído do homem perante Deus em razão do seu pecado, que somente pode ser solucionado por meio da morte de Cristo.
Como dizia Francis Schaeffer, “Jesus morreu na cruz em função substitutiva e em ação propiciatória a fim de libertar o homem da verdadeira culpa que sobre ele pesa. No instante em que nos pomos a alterar esta noção sobre a culpa moral, seja pela falsificação psicológica, seja pela falsificação teológica ou por qualquer outra forma, a obra do Cristo perde o sentido”. (A morte da razão)
A culpa psicológica do homem somente pode ser plenamente apagada se a culpa moral for devidamente paga. Tentar extinguir aquela sem se preocupar com esta é o mesmo que tentar curar o cancer com remédio para dor de cabeça.
A verdade é que o maior fardo do homem não é o sentimento de culpa alimentar, ecológica ou social; mas sim o seu próprio pecado. Mas para se livrar desse fardo não bastam receitas ou dicas pragmáticas. Como disse Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve.”