Texto inconcluso de uma reflexão inacabada


 “Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo” – S. Dali, 1943.

por Esdras Bentho

 “Em sua estrutura concreta, o homem é, antes de mais nada, um ser-no-mundo que, contudo, transcende o mundo não somente no plano horizontal mas também em uma trans-ascendência – uma abertura para Deus”.

Com esta sentença, o eminente teólogo holandês, Edward Schillebeeckx, procurou resgatar, diante da ameaça do secularismo e do existencialismo, a dimensão religiosa do homem de seu tempo, pois como afirmava: “há um aspecto sacramental na religião cristã que não pode ser cancelado”.

As teorias filosóficas, psicológicas, sociológicas ou antropológicas, entre muitas outras correntes do pensamento humano, de fato, à parte das Sagradas Escrituras, não são capazes de responder as mais profundas indagações existenciais do homem moderno. Muito menos, ignorando a doutrina bíblica do pecado e da salvação, lograr êxito nos projetos sociais, econômicos, políticos, educacionais e jurídicos.

O problema não se circunscreve à exterioridade: falta de moradias, de educação, de trabalho, de cultura, mas à interioridade, ao distanciamento do homem de seu Criador. Longe do Criador restaram ao homem apenas o vazio e a espera. O vazio em razão de perder o sentido da vida autêntica dada por Cristo, e a espera, porque vive na expectativa de amuletos tecnológicos e religiosos que preencham o vazio existencial. Aqui, surge uma nova seita a cada dia, ali, pululam movimentos messiânicos, acolá, se infestam de pseudoprofetas, mas o vazio é latente e premente!

O homem, para ser verdadeiramente curado das mazelas que o afligem, necessita ser curado definitivamente da doença ignorada pela ciência, não reconhecida pela psicologia e desprezada pela educação, o pecado. Os homens continuam buscando soluções na educação, na ciência, na tecnologia, na psicologia, na cultura, no direito, na filosofia, e, alguns, na religião para as principais doenças que flagelam nosso século: ansiedade, medo, depressão, consumismo, ambição, angústia, culto ao corpo, drogas, inversão de valores e mundanismo.

Embora não possamos discordar do valor intrínseco de algumas dessas escolhas, se comparadas ao que Cristo realiza espiritual, psíquica, e moralmente no homem, elas são apenas muletas. Cristo é a única solução, segura e definitiva, para este século enfermiço!

As doenças de nosso século e o mundanismo. O vocábulo mundanisno procede do latim mundu que por sua vez reflete o sentido de kosmos no grego. Este último, como afirmamos na obra Hermenêutica Fácil e Descomplicada (p.155-9), aparece com diversas acepções no texto neotestamentário e somente o contexto imediato delimita o significado específico. O termo kosmos, em sentido elástico, designa “ordem”, “beleza” “mundo”, “humanidade”, “terra habitada”. O kosmos é governado por leis uniformes, universais e inflexíveis. Deste conceito, extrai-se o sentido de “sistema” oposto ao caos (kháos), isto é, a desordem e flexibilidade. Mas o uso regular nas Escrituras cristãs em João 7.7; 15.18; 15.19; 1 Coríntios 2.12; Efésios 2.2; Filipenses 2.15; Tiago 4.4 e 1 João 2.15-18, designam um sistema organizado e rebelado contra Deus. Este sistema, mundo-ordem injusta é o mundo-humanidade alienado de Deus pela rejeição às leis do Reino e do Messias Encarnado (Jo 8.7; 17.25). Nos escritos joaninos, o mundo-ordem injusta, possui seus próprios valores, sistemas e governo (Jo 8.44; 12.31; 14. 30; 16.11).

Ao considerarmos as possíveis definições da palavra mundanismo, julgo necessário considerar uma outra acepção do termo com base em duas outras perícopes bíblicas: Marcos 4.19 e 2 Timóteo 4.10.

Na parábola do Semeador, a semente que cai entre os espinhos representa aqueles que foram seduzidos pelos “cuidados deste mundo” (Mc 4.19). A expressão hai merimnai tou aiōnos, traduzido por “os cuidados deste mundo”, literalmente significa “as preocupações do século”.

Na segunda epístola de Paulo a Timóteo, o apóstolo se queixa de que Demas, “tendo amado o presente século”, o abandonou (4.10). De acordo com as duas últimas referências podemos definir mundanismo como amor e ocupação exacerbados com tudo aquilo que é terreno ou material. Esta definição não é muito distinta da oferecida pelo dicionário Aurélio que explica o termo nos seguintes tons: hábito ou sistema daqueles que só procuram gozos materiais.

Todavia, o sentido pretendido pelas Escrituras avança ao proposto pelas duas definições anteriores, corroborando com o conceito joanino de “sistema organizado e rebelado contra Deus”. Satanás, o “príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 1 Jo 5.19), dissemina seus valores mundanos e maléficos através das falsas filosofias, das heresias e da nova moralidade. Para lograr êxito em seus propósitos utiliza a cultura, a indústria de entretenimento, os governos, as músicas, entre outros.

A presente geração está presa ao relativismo, ao materialismo e às doenças emocionais, espirituais e morais – crises de nossa contemporaneidade assistida pelo mundanismo que as geram. A crise é tão profunda que as pessoas desconfiam das instituições e das autoridades públicas, privadas e religiosas. Tateiam de um lado a outro à procura de um porto ou de águas tranqüilas para aportar, mas encontram apenas o individualismo, a ganância, a violência, o descaso e a opressão. Em quem confiar? Em que porto deve ancorar as esperanças do homem? Na filosofia? Quantas existem e mesmo assim não se sabe em qual delas acreditar. No desenvolvimento tecnológico? Guerras, destruição em massa e do meio-ambiente são facilitados pelo mau uso dela. Nos homens? Estes perderam os rumos da ética, misericórdia, bondade e respeito pelo outro. Na ciência? Parece que ela serve mais aos propósitos das grandes corporações do que ao interesse do grande público. No misticismo religioso? Este tornou-se irracional, incapaz de sustentar a razão e a fé nos pêndulos de suas doutrinas. A constatação simples e incontestável é: O homem sem Deus vive sem esperança ou em esperança vã (Jó 8.13; 11.20; 27.8; Ef 2.12; 1 Ts 4.13). A única esperança para esta geração enfermiça é o nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Único e Salvador Todo-Poderoso (1 Tm 1.1).

O mundanismo na pós-modernidade diferencia-se da forma violenta como os cristãos do período greco-romano foram perseguidos ou da inquisição atroz. As estratégias estão mais sutis, difíceis de serem detectadas e não pretendem aniquilar o Cristianismo, mas impedir o seu avanço, atenuar a sua mensagem, e enfraquecer a identidade cristã. A mentira está disfarçada de verdade; a verdade está sob suspeita. Os valores morais e bíblicos perdem espaço para a moralidade hedonista e egocêntrica. Não se trata de mera ação humana, mas de nova roupagem para velhos pecados sob a batuta da antiga serpente.

A cultura e a Queda.

 

  • A cultura é a soma dos valores morais, das crenças, dos costumes e dos padrões éticos e de comportamentos transmitidos coletivamente por uma sociedade. Ela compõe a visão de mundo de um povo, de uma época, e de uma sociedade organizada. Naturalmente, a cultura e a visão de mundo de uma sociedade não cristã, presa aos tentáculos do mundanismo, são opostas aos valores ensinados pela Palavra de Deus. Por isso, o cristão deve discernir, julgar, avaliar e confrontar os valores ensinados pela sociedade de nosso tempo com os ensinos da Bíblia Sagrada. Tudo o que for contrário aos ensinos da Sagrada Escritura deve ser rejeitado e rechaçado pela Igreja. Charles Colson afirmou que “o nosso chamado não é só para ordenarmos a nossa própria vida por princípios divinos, mas também para exortamos o mundo” (O cristão na cultura de hoje, CPAD, p.10). A Igreja deve convocar a sociedade ao arrependimento e exortá-la a deixar a cultura e os valores mundanos.

 O homem é um ser que produz cultura. Antes da Queda, a cultura produzida pelo homem era subordinada aos princípios morais e sociais estabelecidos pelo caráter, natureza e palavra do próprio Deus. A cultura antes da Queda refletia a grandeza da imagem moral de Deus no homem (Gn 1.27-31; 2.15,16, 18-24). Após a Queda, não apenas a criação foi afetada pelo pecado, mas também a natureza ética e moral do homem. Consequentemente, toda a cultura desenvolvida pelo homem pecador estava condicionada à desobediência e rebelião contra a moral e natureza de Deus (Gn 3.17-19,21,23; 4.7,19,23). Em um curtíssimo período, a moral e os valores se degeneraram e a cultura produzida pelo homem refletia a sua própria natureza pecaminosa (Gn 6.1-7; Rm 1.18-32; 3.23). Uma sociedade dominada pelo Maligno, produz, naturalmente, aquilo que está relacionado à natureza vil do Diabo (Jo 12.31; 1 Jo 5.19).

O mundo está passando profundas transformações religiosas. O cristão, portanto, é convocado a discernir o seu tempo, a sua geração.

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3 comentários

  1. em suma a ropagem que o (“cristianismo”) tem vestido, usando adornos de uma cultura judaica e disfaçada de cristianismo e que tem dado armas au diabo pra esta infiltando uma cultura mundana nas igrejas. se revese nossos conceitos viveriamos um cristianismo mas jenuino

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