Marina Garner |
Resumo : O presente artigo aborda a problemática da aceitação na sociedade secular, não-religiosa, da prática do sexo pré-marital. No debate religioso, a questão é colocado muitas vezes sob o foco da visão bíblica e eclesiástica desse assunto; pouca atenção é dada, no entanto, aos estudos políticos e sociais do problema e suas implicações para a sociedade como um todo. Neste artigo, procuramos verificar as outras abordagens da questão e analisar as razões por elas apresentadas.
Palavras-chave: sexo pré-marital; sociedade secular; Bíblia.
Pre-Marital Sex in the Secular Optic
Abstract: The present article approaches the problem of the acceptance of pre-marital sex by the secular, non-religious, society. In the religious debate of the issue, the emphasis has usually being set on the biblical and ecclesiastic optics of the matter; little attention, however, has being given to political and sociological studies of the subject and its implications to society as a whole. This article searches to verify these latter approaches of the issue and to analyze their reasoning.
Keywords: Pre-marital Sex; Secular Society; Bible.
Introdução
Estamos sofrendo, no século XXI, algo que os especialistas gostam de chamar de “A revolução do sexo” que se estima haver começado pelo ano de 1945, quando a descoberta da penicilina e a pílula anticoncepcional removeram três das piores conseqüências da promiscuidade: infecção, detecção e concepção.1 Esta revolução abrange uma série de questões da ética sexual como: responsabilidade parental, divórcio simples, legalização do aborto, liberalidade da homossexualidade, permissão da pornografia e sexo extra-marital / pré-marital.
Esta revolução, segundo J. Rinzema, se desenvolveu passando por três fases específicas: a fase anti-sexo (fim do século XIX e início do século XX, onde existe uma hostilidade muito grande em relação a qualquer assunto envolvendo a sexualidade, moralidade tradicional: anti-divórcio, anti-métodos concepcionais, anti-sexo pré-marital), a fase pró-sexo (encorajamento do relacionamento saudável entre casais casados e sexo é apoiado permanecendo com a moralidade tradicional), a fase revolucionista (defesa da moralidade tradicional, porém com atualizações. Os descriminados devem lutar pelo respeito, existe exceção para tudo: homossexualismo, divórcio, métodos anticoncepcionais) e a fase revolucionária (todas as formas de sexo são incentivadas, os casados ou não casados, homossexuais e heterossexuais devem buscar o prazer, rejeição da moralidade tradicional).2
O mundo, de acordo com estas informações, como conseqüência dessa revolução, passou de uma visão negativa para uma posição positiva; da supressão de discussão séria para o encorajamento ao estudo e investigação; de um controle estrito e rígido da expressão sexual para a atitude tolerante e permissiva.3
O presente artigo abordará somente um desses aspectos da revolução sexual, porém com a visão extra-religiosa. A ética do sexo pré-marital entre solteiros é abordada em sua grande maioria pelas comunidades religiosas com uma visão bíblica para a sua condenação, porém pouca atenção se dá aos efeitos extra-religiosos deste ato, que também corroborariam com a base bíblica para ela. Esperamos neste artigo clarificar estas questões tão importantes para a apologética da ética cristã.
Perspectiva mundana
A U.S. News & World Report incluiu uma reportagem especial em ética na sua edição de 9 de Dezembro de 1985 com a pergunta “É errado que uma mulher e um homem tenham relações sexuais antes do casamento?”. Trinta e seis por cento disseram que era errado, mas 61% disseram que era moralmente aceitável. Com os jovens, esse número subiu para 78% aprovando. Cada ano que passa, esses números aumentam consideravelmente e os jovens não-cristãos muito raramente encontram algo de errado no sexo pré-marital.
Os dados de uma pesquisa feita por Lawrence B. Finer, no ano de 2002, indicam que aos 20 anos de idade, 77% dos entrevistados tinham tido relações sexuais. Já 75% tinham praticado sexo pré-matrimonial e 12% tinham casado. Pela idade, 44,95% dos entrevistados (94% mulheres, 96% homens e 97% daqueles que nunca tinham tido sexo) tinham praticado sexo pré-marital. Mesmo dentre aqueles que haviam se abstido até a idade de 20 anos, 81% havia tido sexo pré-marital até a idade de 44. Entre aquelas mulheres completando 15 anos entre 1964 e 1993, pelo menos 91% havia tido sexo pré-marital até a idade de 30 anos. Entre aquelas completando 15 anos entre 1954 e 1963, 82% tinham tido sexo pré-marital até os 44 anos.4
No pensamento contemporâneo, três visões a respeito do sexo pré-marital são significantes e merecem a nossa atenção:5
a) A visão do impulso natural
Esta visão defende que o sexo é um impulso ou instinto humano e natural. Agora que os contraceptivos estão muito acessíveis e confiáveis, o sexo deve ser visto puramente como uma experiência física prazerosa. O desejo sexual não precisa necessariamente ser limitado a um único companheiro nem ser acompanhado de sentimentos amorosos. Estes acreditam que você não precisa carregar qualquer fardo de culpa moral a menos que você use um parceiro de modo forçado. A livre expressão sexual é saudável e deve existir enquanto que a repressão do desejo sexual é danosa e pode resultar em uma variedade de neuroses, até mesmo a insanidade.
b) A visão da afeição
Esta nova visão moral tem surgido nos últimos vinte e cinco anos. Varia de forma sutil da primeira visão no fato de que os apoiadores vêem o casamento positivamente. A liberdade sexual é louvável, mas não é um fim em si mesmo. Deve, portanto, ser guiado por um ideal de intimidade sendo que esta intimidade não é o mesmo que amor, e sim, um sentimento que duas pessoas podem ter um pelo outro durante uma noite, por um ano ou por uma vida inteira. Intimidade não é algo que você planeja, simplesmente acontece. Os que sustentam esta idéia ficam juntos, dormem juntos, moram juntos e, se o relacionamento der certo, ratificam seu relacionamento através do casamento.
O direito à intimidade é criado por compatibilidade, não aliança. Compatibilidade não é primariamente compatibilidade sexual, mas afinidade em personalidade e psicologia. Compatibilidade simplesmente “acontece” e um dia a pessoa pode perceber que já não é compatível com o companheiro(a) devido à mudança de personalidade e, nessa ocasião, o divórcio é moralmente correto, ou pelo menos, não é errado.
c) A visão da abstinência
Esta é a visão mais conservadora. Tem sido freqüentemente justificada pelas Escrituras. Nem todos, porém, que advogam esta posição o fazem com base na revelação divina. Existem aqueles que a justificam com base em um interesse utilitário na maximização da felicidade humana. Segundo eles, alguns comportamentos sexuais são essenciais para a manutenção do senso de comunidade e, em retorno, para a felicidade humana.
Argumenta-se a favor desta visão e conseqüentemente contra as anteriores, que o ato sexual envolve uma pessoa como um todo, unindo física e psicologicamente dois indivíduos em uma forma única, portanto; enquanto que o sexo pode trazer gratificação a dois parceiros descompromissados, em pelo menos alguns casos esse prazer é trivial. Além disso, limitar o sexo ao casamento encoraja indivíduos a se casarem e se manterem casados. O desenvolvimento de uma família sólida desenvolve uma sociedade estável e, conseqüentemente, felicidade humana.
Outro argumento a favor é o fato de que em um casamento onde os dois parceiros são absolutamente fiéis um ao outro, a probabilidade de se contagiar com alguma doença sexualmente transmissível é quase não-existente. Uma lista curta de DST’s que ameaçam aqueles que praticam o sexo pré-marital é gonorréia, sífilis, herpes genital, tricomoníase, Cancróide, AIDS, entre outros.6 Falta de controle das DST’s levam milhares de mulheres a desenvolverem infecções secundárias na região pélvica, o que leva a uma porcentagem alta de infertilidade. Se essas mulheres ficarem grávidas, ela pode passar esta doença ou cegueira causada pela doença para o seu bebê. 7 Os jovens podem ajudar a prevenir a propagação dessas doenças debilitantes, incuráveis e algumas vezes fatais, preservando-se para seus cônjuges no casamento.
Finalmente, enquanto que a abstinência não elimina inteiramente o problema de gravidez indesejada, a reduz grandemente. Um número muito grande de problemas sociais surge com gravidez indesejada como o número crescente de famílias de pais solteiros, o aumento da pobreza, traumas familiares que ocorrem principalmente nas crianças, marginalização e um número alarmante de abortos. Vale informar que mulheres jovens que são sexualmente ativas antes do casamento são as que fazem a maior parte dos abortos.
Providências Governamentais
Na última década, um número cada vez maior de advogados, doações e esforços programáticos tem focado em encorajar americanos em se abster de relações sexuais até o casamento. A The Personal Responsibility and Work Opportunity Reconciliation Act (PRWORE) autorizou em 1996 a provisão de $50 milhões anualmente em fundações federais para educação abstinência-até-casamento. Programas fundados sob tal ato devem ensinar que “abstinência de atividade sexual fora do contexto do casamento é um padrão esperado e que a atividade sexual fora do casamento resulta em efeitos psicológica e fisiologicamente prejudiciais”.8 Programas estaduais fundados sob esta organização devem ter como seu “propósito exclusivo” a promoção da abstinência fora do casamento para pessoas de qualquer idade. A administração atual solicitou $204 milhões para o ano de 2007 para patrocinar a educação da abstinência, e agora requer que tais programas enfatizem “que os resultados de uma vida melhor são mais prováveis de serem obtidos se um indivíduo se abstêm até o casamento”9 e os proíbe de “promover ou encorajar o uso de qualquer tipo contraceptivos fora do casamento”.10
O objetivo primário desses esforços é encorajar todos os americanos a se absterem do sexo até o casamento. A maioria desses esforços programáticos da abstinência-até-casamento têm como alvo os adolescentes, pois normalmente aquele que se mantém em abstinência até pelo menos o fim da adolescência tem uma probabilidade grande de se manter até o casamento. Esses programas consideram este ideal atingível, porém, a idade média para os jovens casarem aumentou consideravelmente: de 22.1 a 25.8 para mulheres e de 24.4 a 27.4 para homens nos últimos 25 anos.11 A proporção da população da idade de 18 para cima que nunca casaram aumentou de 16% a 25% entre 1970 e 2004,12 o que sugere que muitos indivíduos têm um intervalo muito longo entre a puberdade e antes do casamento, durante o qual eles podem se tornar sexualmente ativos. O início prematuro da atividade sexual também pode estar acontecendo pelo acesso crescente ou efetividade dos métodos contraceptivos (em particular, a pílula), que fez com que a gravidez fosse menos possível.
Conclusão
Evidências dos últimos 50 anos sugerem que o estabelecimento da abstinência-até-casamento como um comportamento normativo é um ideal muito desafiador. Porém, os dados expostos neste artigo, incluindo os benefícios de tal comportamento argumentam a favor da existência de uma mobilização não-religiosa a favor do casamento pós-nupcial e a realização de uma educação e intervenção intensiva com os jovens e adolescentes do século XXI. Além de esse ideal ser religioso e contribuir com o relacionamento do ser humano com Deus e os princípios por Ele ordenado, teria uma grande colaboração com a felicidade geral da sociedade, que é, obviamente, o objetivo de Deus para o mundo.
Notas
1 Feinberg, Johns S. e Paul D. Ethics for a Brave NewWorld. (Wheaton, IL: Crossway Books), p. 150.
2 Rizema, J. The Sexual Revolution. (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Publishing Company), p. 17, 18.
3 Mace, David R. The Christian Response to the Sexual REvolution. (Nashville, NY: Abingdon Press), p. 68.
4 Site oficial do Public Health Reports, Disponível em: <http://www.publichealthreports.org/userfiles/122_1/12_PHR122-1_73-78.pdf>. Acesso em 23 de Abril 2007.
5 Rizema, p. 17,18
6 Site do Pre-Marital Sex Institute, Information. Disponível em: <http://www.premaritalsex.info/std.html>. Acesso em 23 de Abril 2007
7 Site oficial do All About World View Organization, Sex Before Marriage. Disponível em
<http://www.allaboutworldview.org/sex-before-marriage-faq.htm >. Acesso em 23 de Abril 2007.
8 Donovan P, Kaeser L. Welfare reform, marriage and sexual behavior . (New York: The Alan Guttmacher Institute)
9 Santelli J, Ott MA, Lyon M, Rogers J, Summers D, Schleifer R. Abstinence and abstinence-only education: a review of U.S. policies and programs. P. 38:72-81. Citado em Site oficial do Public Health Reports, Disponível em: <http://www.publichealthreports.org/userfiles/122_1/12_PHR122-1_73-78.pdf >. Acesso em 23 de Abril 2007.
10 Dailard C. The other shoe drops: federal abstinence education program becomes more restrictive. (Guttmacher Policy Review 2006). P. 9(1):19. Citado em Site oficial do Public Health Reports, Disponível em:
<http://www.publichealthreports.org/userfiles/122_1/12_PHR122-1_73-78.pdf >. Acesso em 23 de Abril 2007.
11 Census Bureau (US). Table MS-2. Estimated median age at first marriage, by sex: 1890 to the present [cited 2005 Jul 19]. Disponível em: <http://www.census.gov/population/socdemo/hh-fam/ms2.pdf >. Acesso em 23 de Abril 2007.
12 Census Bureau (US). Statistical abstract of the United States: 1995 . (Washington: Government Printing Office, 1995).
Muito bom esse artigo.Se as pessoas se conscientizassem e vivessem no plano de Deus ñ estariam passando por tantas divergências.O sexo no contexto do casamento é muito mais saudável pode nos levar à felicidade verdadeira.Um abraço!