NUDEZ, PORNOGRAFIA E ARTE


Depois que o ator Pedro Cardoso resolveu publicar o seu manifesto contra a pornografia camuflada de arte e entretenimento da televisão, o assunto rendeu.

Inicialmente, pensei tratar-se de discurso premeditado a fim de tão somente trazer os holofotes da mídia para sua peça teatral “Todo mundo tem problemas sexuais“. Porém, o ator tem mostrado bom fôlego, defendendo sua tese até as últimas conseqüências. Tanto é que acabou comprando briga com a Playboy, aquela revista famosa para “adultos” que argumenta que “nu artístico” não é a mesma coisa que pornografia.

A batalha pode ser lida no blog do próprio Pedro, onde ele conta com minúcias, e cópias de e-mails, como se deu sua desavença com a revista, e explica como desmascarou a falácia de que nudismo é arte.

Mas o assunto não pára por aí. A Revista Veja também entrou na briga, é claro. Nessa semana ela traz como capa a matéria “Puritanismo envergonhado“, e de início já demonstra o seu mote principal: “A nudez pode ser arte ou protesto, pode significar afeto ou defender causas humanitárias. Tornou-se uma manifestação de liberdade vencedora no mundo de hoje. É, portanto, intrigante que ela esteja sendo contestada agora no Brasil por atores e atrizes. Tudo bem, mas cuidado para não incentivar a censura”.

É aquele velho e enrugado discurso libertário em que a manifestação artística não pode jamais ser censurada. É de uma leviandade terrível querer pressupor que até mesmo a pornografia, concebida como a manifestação da liberdade vencedora no mundo de hoje, esteja imune àquilo que eles chamam de censura. É a tática de indução do leitor. Afinal, na atualidade toda censura deve ser censurada.

A questão é que a concepção de arte moderna é uma confusão só. Ninguém sabe ao certo o que é ou não é arte. Outro dia, por exemplo, um indivíduo cravou um sapo numa cruz e disse que era uma obra de arte. De igual modo, determinada peça teatral em que dois irmãos simulam um incesto é considerado arte. Telas esquisitas, pinturas malfeitas, sexo explícito e violência recebem também a mesma denominação.

Mas quem diz o que é ou não é arte? Esse é o problema. Segundo a visão atual a arte não passa por critérios objetivos mas sim subjetivos. A arte, dizem, “está nos olhos de quem vê”. Portanto, dentro dessa visão, tudo é arte. Com isso, nada é não-arte. Eis aí o paradoxo, já que a arte deveria ser considerada em razão de suas características especiais de beleza, inteligência e criatividade.

Contesto esse tipo de visão. E sei que muitos haverão de me contestar também. Mas quer queiram ou não os defensores desse pensamento devem admitir que hoje o que temos é a banalização das artes. Afinal, a sua concepção está intimamente ligada à cosmovisão dominante. Foi sobre isso que Francis Schaeffer escreveu no seu livro “Como Viveremos?”, especificamente no capítulo 10 “Arte atual, música, literatura e filmes”, onde ele discorre sobre a arte ao longo da história e a forma como ela foi se alterando na medida em que as cosmovisões mudavam.

Como escreveu Michael Horton, “a visão que o artista tem do mundo aparecerá na sua obra; as visões de mundo de Stephen Crane e Jean-Paul Sartre são muito diferentes da de George MacDonald, e suas obras de ficção refletem isso”. (O cristão a cutura, p. 71).

Nesse contexto, portanto, não existe mais diferença entre a boa e a má arte. Esse tipo de critério não é aceito hoje em dia, isso porque a verdade é relativa; e se a verdade é relativa não temos uma padrão de análise; e se não temos um padrão de análise tudo o que sobra é gosto; e se o gosto é o único “medidor”da arte, então a péssima arte será tolerada no altar do mau gosto. Esse é o grande problema.

O que deviamos entender é que “a arte faz parte da condição humana. A criatividade constitui um aspecto de distinção entre humano e não humano”. A criatividade está intrínseca na nossa condição humana” , como bem escreveu Francis Schaeffer.

No tempo presente, entretanto, a arte está longe dessa idéia. Por isso, a pornografia, o nudismo esquizofrênico e a sexualidade exacerbada são consideradas por muitos como sendo expressão artística. Isso representa claramente um dos aspectos da pós-modernidade, onde o corpo transformou-se num mero objeto de exposição, e o sexo, nada mais que um acasamento de indivíduos distintos.

 Que pena!

 

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10 comentários

  1. Bom, Valmir Nascimento, um ótimo texto.
    Hoje em dia qualquer bobagem, barulho ou coisa do tipo para esses que nem sabem o que é verdadeiramente arte pode ser arte.
    Deixo só citar o exemplo de Música.
    Música é uma arte que nos deve envolver, que deve elevar a alma, e não é qualquer coisa que se pode considerar como música, como boa música.
    Músicas de músicos como Mozart -podem serem tidas como exemplo de boa arte musical, pois quando se ouve se percebe que está ouvindo uma boa música, uma música de verdade, e não algo barulhento.
    Mas, o que hoje se entende por música? Qualquer coisa que se diga ser música, mesmo que contenha as maiores baboseiras e que ninguém entenda nada, já é tido por arte musical. Só para citar alguns exemplos: o hip hop, o rap e o rock.
    Esses estilos musicais se fossem em épocas em que a música era levada a séria, seriam tidos como lixos musicais, mas hoje por esta sociedade que não têm nenhum pouco um bom gosto musical, e que ainda precisa e muito aprender a ter bom gosto, é tida como música;
    E, portanto, se já é assim na área da música, que dirá em outras artes?

  2. Caro Valmir,

    Depois de assistir, semanas atrás, à entrevista do Pedro Cardoso ao Roberto Dávila, em que ele, em dado momento, aponta com absoluto acerto a contradição da Editora Abril de ter uma revista que luta tanto pela ética na política – “Veja” -, mas, ao mesmo tempo, gabar-se de manter a maior revista pornográfica do país (que ela insiste em não denominar pornográfica), pensei em postar um texto curto no meu blog sobre o assunto, mencionando, inclusive, o interessante prélio em forma de emails entre o Pedro Cardoso e os editores daquela tal “revista de adultos”, confronto este que estava acompanhando com interesse já fazia alguns dias. Este artigo do irmão, porém, provocado pela matéria de “Veja” desta semana, que descaradamente tenta minimizar as críticas certeiras de Cardoso (o que mostra o quanto o ator conseguiu atingir a editora com seus argumentos), simplesmente “tirou as palavras da minha boca”. Assino embaixo!

    Abraço!

  3. Você poderia também falar de Revistas com conteúdo Cristão.

    Acredito que seria interessante!

    Um grande abraço!

  4. O coração dominado por pecado deve ser também “arte” de uma dupla Homem+satã = morte.
    Continue seu grito. Abraços. Guiomar.

  5. Olá Henrique,

    Você deu outro excelente exemplo onde a arte está sendo abolida: a música.

    Isso mesmo, a música clássica que outrora aguçava a inteligência, onde o ouvinte precisava meditar na melodia a fim de entendê-la, deu lugar a músicas pops que mais embestializam do que contribuem.

    São realmente casos análogos.

  6. Caro Silas,

    De fato. O Pedro Cardoso atingiu a “Veja”. Tanto é que essa matéria de capa tem ele como alvo.

    O que nos deixa pasmos, Silas, é a forma como a revista tenta seduzir e ludibirar o leitor incauto por meio dessa argumentação tendenciosa, ao suscitar que a tese exposta pelo ator pode funcionar como uma espécie de censura à arte e ao entretenimento. É de uma desonestidade sem tamanho esse raciocínio.

    Ora, o direito de expressão e representação por meio da arte e do entretenimento possui limites. Não aceitar isso é abrir espaço para todo tipo de publicações na mídia.

    Infelizmente essa falácia enganosa de contrariedade a toda idéia que busca “censurar”tem ganhado espaço na cultura moderna. Cultura, aqui menciono, no strictu senso mesmo. Em minhas aulas de mestrado de “cultura contemporânea” tenho percebido como esse presságio infiltrou-se nos círculos acadêmicos, de modo que toda expressão cultural e artística deve ser aceita sem qualquer tipo de confrontação. Daí, quando surge alguém como o Pedro, que defende uma forma de pensamento contrária, o mesmo é tido como retrógrado e “puritano”.

    Agora. Para acabar mesmo foi a revista invocar como testemunhas nada mais e nada menos que Maitê Proença e Cláudia Ohana. Chega a ser risível. Por que não entrevistaram atores e atrizes de verdade?

    Grande Abraço!

  7. Lekio,

    Obrigado pela sugestão.

    Sempre que possível abordamos algumas temáticas de revistas cristãs. Entretanto, o foco principal do blog é confrontar as publicações seculares que atacam os valores bíblicos e jogam por terra os padrões da moralidade. Por isso a pergunta: E Agora, Como Viveremos?

    Mas, repito. Vez ou outra comentamos.

    Abraço

  8. Valmir,

    Parece até coincidência, depois da lição da EBD vir com o tema “A Bíblia: O Código de Ética Divino”. E abordando em seu bojo assuntos como: Valores morais, A trágica situação espiritual do mundo e do Brasil, A falha da sociedade em educar os cidadãos, e dizendo que o mundo se encontra numa situação moral e espiritual de calamidade, etc.

    Em Seguida a Revista Veja agiu sem o menor escrúpulo com o título de capa “A ética da nudez”. Não são os artitas que estão protestando a favor do nú, mas a própria revista, reabre a questão defendendo seus periódicos com opinião tendenciosa.

    Parabéns pelo texto
    Abraços

  9. Besteira tomar pornografia como um qualificativo ou juizo de valor. Pornografia pode ser boa ou má, só depende de quem a produz. Textos de autores (que escreveram pornografia) como James Joyce, Henry Miller, Anaïs Nin, João Ubaldo Ribeiro e outros podem ser tomados como pornografia, nunca são ruins…

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