Valmir Nascimento M. Santos
Há tempos temos dito que a religiosidade não é uma questão eminentemente espiritual, mas também social, a trazer benefícios evidentes para toda a sociedade, com a redução do uso de drogas, incidência de crimes, controle da depressão e do estresse e a contribuição para a estabilidade familiar.
Quanto às drogas, um estudo feito por estudantes da Unicamp demonstra a evidência já comprovada pela literatura internacional e nacional, a saber: várias dimensões da religiosidade são possivelmente fatores relevantes na modulação do uso e abuso de álcool e drogas por diversos grupos populacionais, particularmente adolescentes e jovens.
A pesquisa, elaborada por Paulo Dalgalarrondo, Meire Aparecida Soldera, Heleno Rodrigues Corrêa Filho e Cleide Aparecida M. Silva, teve como objetivo principal verificar se diferentes variáveis da religiosidade influenciam o uso freqüente e/ou pesado de álcool e drogas entre estudantes de 1o e 2o graus. Como resultado, constatou-se que “o uso pesado de pelo menos uma droga foi maior entre os estudantes que tiveram educação na infância sem religião. O uso no mês de cocaína e de “medicamentos para dar barato” foi maior nos estudantes que não tinham religião. O uso no mês de ecstasy e de “medicamentos para dar barato” foi maior nos estudantes que não tiveram educação religiosa na infância”.
A pesquisa concluiu que várias dimensões da religiosidade relacionam-se com o uso de drogas por adolescentes, com possível efeito inibidor. Particularmente interessante foi que uma maior educação religiosa na infância mostrou-se marcadamente importante em tal possível inibição.
O trabalho foi aprovado na sua íntegra pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e foi obtido o consentimento livre e informado das Delegacias de Ensino, dos Diretores e Associação de Pais das escolas envolvidas. Segundo o texto, “foi explicitamente dito a todos os estudantes, antes da aplicação do questionário, que eles tinham pleno direito em não participar da pesquisa e que isso não implicaria em qualquer forma de desaprovação ou repreensão por tal recusa. A aplicação foi coletiva, em sala de aula, sem a presença do professor”.
Constatou-se ainda que “embora a diferença absoluta em pontuação seja pequena, é possível supor que os adolescentes com menos educação religiosa e menos religiosidade pessoal atual tendam também a ser aqueles que se sentem psicologicamente pior”.
Outra observação interessante que chama a atenção é a afirmação de que “uma importante pesquisa, recentemente publicada (Scheepers P, Grotenhuis MT, Van der Slik F. Education, religiosity and moral attitudes: Explaining cross-national effect differences. Sociology of Religion 2002;63(2):157-76), investigou dados relativos à educação, religiosidade e atitudes morais em 16.604 sujeitos, em 15 países. Os autores puderam identificar que as atitudes morais de um indivíduo criado por pais religiosos são claramente mais “conservadoras” do que as daqueles criados por pais não religiosos. Verificaram também que os efeitos da socialização na infância com pais religiosos mantêm-se durante o período adulto. Finalmente, verificaram que a influência da religiosidade sobre atitudes morais é mais intensa nos países menos secularizados. Segundo os autores, nos países nos quais a religiosidade era, de forma geral, mais importante na vida social, a religiosidade individual e dos pais tendeu a nortear mais marcadamente as atitudes morais e padrões comportamentais dos indivíduos”.
Essa pequisa prova, mais uma vez, entre outras tantas já realizadas, que a educação religiosa na infância, a prática devocional na familia, e a internalização de valores que dão significado à vida, são fundamentais para manter o adolescente longe do mundo das drogas. Viu-se que, quanto menos o adolescente se insere no contexto religoso mais ele estará propenso a tornar-se usuário de drogas, isso porque, como finalizam os pesquisadores “ao se aderir a uma denominação religiosa e envolver-se com padrões de religiosidade, adere-se a um conjunto de valores, símbolos, comportamentos e práticas sociais, enfim, adere-se a um amplo e complexo ethos religioso que inclui, entre outras coisas, a aceitação ou recusa ao uso de álcool e drogas“.
Soli Deo Gloriae!
Ver a pesquisa completa: Religião e uso de drogas por adolescentes