Ou Minc está enrolando ou ainda não disse sim a Lula
Ricardo Noblat
Sei não. Começo a pensar que Carlos Minc, atual secretário do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, poderá não emplacar como novo ministro do Meio Ambiente no lugar da senadora Marina Silva (PT-AC).
A razão?
De duas, uma: ou ele está tentando enganar os trouxas com o que tem dito em Paris ou preparando uma desculpa para se recusar a trocar o Rio por Brasília.
Sobre a primeira hipótese: como pode desejar que as pessoas confiem no seu taco alguém que vai logo dizendo:
– O Rio de Janeiro eu conheço muito bem, o Brasil eu conheço muito mal.
De quanto tempo precisará o novo ministro do Meio Ambiente para conhecer razoavelmente bem o Brasil? Ou o exercício do cargo dispensa tal condição?
Minc deu uma paulada merecida no governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, aliado de Lula e o maior produtor de soja do mundo. Debochou:
– Se deixar, ele planta soja até nos Andes.
Maggi reagiu irritado por meio de nota oficial.
Pura pirotecnia de ambas as partes.
Minc disse que Lula concordou com todas as suas exigências para suceder Marina. Uma delas: mais dinheiro para o ministério. Outra: “carta branca” para montar sua equipe. Outra ainda: manter a política da ex-ministra.
Dinheiro se promete e mais tarde se dá ou não. “Carta branca” é clichê. A nenhum ministro Lula deu “carta branca” para escalar sua equipe.
Porém, o mais relevante foi Minc afirmar que a política de Marina será mantida.
Quer dizer então que Lula forçou a saída de Marina do ministério para pôr em sua vaga quem pretende proceder como ela… É isso?
Peraí, Minc, conta outra… Muda de assunto. Pára de falar. Vá tomar por mim um Barthyllon. Tome logo dois.
Minc, atentai bem: você está sendo convocado para substituir Marina porque é bem mais flexível do que ela quanto aos cuidados que se deve ter em relação ao meio ambiente.
Você é recordista, por exemplo, no número de concessão de licenças ambientais para a execução de projetos. E você é rapidíssimo na gatilho para conceder licenças. Lula lhe reconhece os méritos.
De Paris, o quase futuro ministro do Meio Ambiente fez questão de falar também como se ainda não tivesse aceitado o convite de Lula.
– Vamos conversar na próxima segunda-feira…
– Eu quero ver quais serão as condições de trabalho que ele me oferecerá.
– Eu disse a ele que só aceitei o convite de Cabral [Sérgio, governador do Rio] na terceira tentativa dele.
– E eu também disse para ele (Lula) que era inaceitável que o meio ambiente não estivesse participando das discussões sobre a política industrial do Brasil. O meio ambiente não pode ficar de fora disso.
Sobre a segunda hipótese – a de que Minc esteja ocupado em construir uma desculpa para cumprir a promessa que disse ter feito de pés juntos a Cabral de não trocar o Rio por Brasília: é mais fraca do que a primeira, bem mais fraca, admito, embora não deva ser de todo descartada.
Assim como Paris, o Rio vale bem mais do que uma missa.
(Alô, alô, seu Cabral! Gosto muito do meio ambiente carioca.)
Ocorre que tem gente, muito mais gente do que seria concebível, capaz de abrir mão de salários polpudos, de conforto, do convívio com a família, só para dizer depois que um dia foi ministro – da Pesca, do Futuro, do Passado, de qualquer coisa. O do Futuro, o professor Mangabeira Unger, renunciou até ao que pensava a respeito do governo Lula.
Afinal, tudo pelo bem do Brasil!
De pé pelo Brasil!
Ninguém segura este país!
Se for pelo bem do Brasil, diga ao povo que fico (ou que aceito o cargo)!
Minc é um bom frasista. Certamente saberá forjar uma justificativa mais original para dizer “sim” a Lula. E para passar a dizer “sim, senhor”, quando sentar de vez na cadeira de Marina.