FÉ EM XONGAS


Valmir Nascimento Milomem

Outro dia estava reflexivo. Tudo começou por causa da minha insistente curiosidade e pela velha mania de conceituar as palavras. Estava cansado de ler semanalmente os textos do Ricardo Freire na Revista Época e me deparar com o titulo estampado em letras garrafais o enigmático vocábulo “XONGAS”, sem, no entanto, saber o seu real significado.

Resolvi, então, colocar meu lado investigador em ação. Primeiro, “procurei” o velho Aurélio Buarque de Holanda , vulgo dicionário. Ele me “disse” que xongas é uma expressão popular que quer dizer “coisa nenhuma” ou “nada”. Fiel à investigação, quis ainda confirmar a informação. “Procurei” o Michaellis, o Luft e o Houassis (por que todo dicionário tem nome difícil?). E, para surpresa minha, todos “falaram” a mesma coisa: xongas é igual a nada. Coisa nenhuma.

Fiquei pasmo, boquiaberto e, sobretudo, estupefato. Como pode alguém morar no Brasil e ainda não conhecer profundamente essa palavra e o seu brilhante significado? Explico meu espanto: No nosso país, os governantes não fazem xongas e só falam xongas; o salário mínimo vale xongas; a violência não diminui xongas e o povo, por seu turno, não faz xongas e não quer saber de xongas.

Foi exatamente por essas e por outras que idealizei a xonganice – a ciência do estudo nada, da coisa nenhuma e adjacências -. Afinal, se é para fazer coisa nenhuma, que sejamos pelo menos peritos no assunto.

O equívoco acerca da fé

Não bastasse essa inércia brasileira, no contexto de uma sociedade omissa, cujos cidadãos (ou seria melhor dizer indivíduos?) preocupam-se mais com os seus próprios umbigos em detrimento da barriga do próximo. Existe, ainda, outro grande problema relacionado à palavra xongas, neste caso, inserido no âmbito da fé.

Um enorme equívoco tem sido difundido. Ouço constantemente a seguinte frase: “O importante é ter fé”, ou “Precisamos simplesmente acreditar em alguma coisa” ou, ainda, “Basta simplesmente crer”.

Com base nesse pensamento, argumenta-se que ter fé é o bastante. Independente no que ou em quem a pessoa crê. Basta simplesmente acreditar. Não importa a que religião você pertença ou que crença tenha. O importante, dizem, é ter fé em alguma coisa.
Esse tipo de pensamento leva as pessoas para um caminho obscuro, cujo final é um mundo imaginário e sem saídas. Fazendo as pessoas terem fé em qualquer coisa ou em nada. Fé sem objetivos. Fé sem fundamentos. Fé tola. Fé em xongas.

Esse tipo de fé coloca o resultado da crença não naquilo em que se crê (objeto da fé) e sim na intensidade da fé ou no quanto se crê. Pouco importando em quem ou no que se acredita. Não se leva em consideração os fundamentos da fé. Não se analisa. Não se pensa. Não se investiga. Simplesmente crê!

No âmbito dessa concepção, diferença não existe entre ter fé em Cristo e fé num boneco qualquer. Tanto vale ter fé em Deus, Criador soberano, quanto em qualquer deus da mitologia grega. Disparidade não há entre crer na Bíblia, fonte histórica e inspirada e crer em rabiscos psicografados. Não existe diferença entre ter fé em algo consistente e ter fé em xongas.

O contexto atual é de surgimento de novas crenças. Religiões são criadas. Deuses sãos inventados. Templos são abertos. Basta escolher aquele tipo de fé que se encaixe ao seu perfil. Que te faça sentir bem. Que te deixe em alto astral. E depois, é só crer!

Será que esse pensamento é correto? Será que tal entendimento é lógico? O simples fato de ter fé é o suficiente? O que mais vale? A fé ou o objeto da fé?
Não. Não é necessário muito esforço mental para responder que tal pensamento está completamente equivocando, pra não dizer absurdo. Se o simples ato de crer for o suficiente, então não precisamos de Deus. Não precisamos de Cristo. Não precisamos de ninguém. Basta ter fé.

Na relação pessoa –> fé –> objeto (aquele ou aquilo em quem se crê) o que mais importa não é o tamanho da fé e sim o objeto da fé. Sendo assim, de nada adianta ter uma enorme fé em algo que não tem o poder de salvar ou transformar. De nada vale, crer incondicionalmente num objeto sem força, incompetente ou incapaz. Ou ainda, de nada valerá crer em algo que somente existe na imaginação das pessoas.

Cristo demonstrou isso com as seguintes palavras: “E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” João 11:26; “Quem crê em MIM nunca terá sede” João 6:35. “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.”João 6:47.
Nas palavras de Jesus o mais importante era o objeto da fé (Ele) e não o tamanho da fé da pessoa, tanto que em outra ocasião argumentou que uma fé do tamanho de um grão de mostarda traria resultado.

Fé em deuses do nada

Como exemplo disso, vejamos a disputa entre Elias e os profetas de Baal. Crendo em Deus Elias enfrentou os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal. Esses, possuidores de uma gigantesca fé no seu deus Baal, invocaram-no da manhã até à tarde, sem no entanto, receberem uma resposta. Gritavam, saltavam e até se cortavam com facas na espera de um retorno. Demonstraram uma fé enorme; uma crença admirável; digna de elogio; porém, uma fé tola; uma fé em xongas.

Criam num objeto inanimado, incapaz, sem poder nenhum. Não falava, não agia, não transformava.

Elias até zombou deles, dizendo:

Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem. Talvez esteja dormindo e despertará.
Elias, o profeta de Deus, por outro lado, se aproximou, e disse:
– Ó Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que tu és o Senhor Deus e que tu fizeste voltar o seu coração.

Uma oração simples, porém, baseada numa fé correta e direcionada ao Deus verdadeiro. Então, diz as Escrituras, caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e ainda lambeu a água que estava no rêgo. O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos e disseram: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!” (1 Reis 18:19-39).

Os profetas de Baal, pelo que se depreende do texto bíblico, tinham mais fé em Baal do que Elias tinha no Deus dos judeus. No entanto, o diferencial não estava no tamanho da fé, e sim em quem a fé era direcionada.
Os profetas direcionaram a fé para um deus inanimado. Elias, para um Deus poderoso.
Os profetas criam num deus feito por mãos de homens. Elias, no Criador de todas as coisas.

 

Os profetas tinha enorme fé numa ficção. Elias, uma pequena fé no Deus real.
Baal é o que não falta atualmente. E pessoas para o adorarem também não. Detentores de enorme fé em deuses irreais, imaginários, fantasmagóricos. Fé em xongas. Crença sem objetivo. Sem resultados. Sem salvação. Sem transformação. Fé que não remove nem cutícula de unha. Não muda situações. Não vivifica.
A fé em Cristo, por outro lado, por menor que seja. Salva, transforma e traz vida abundante.

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