Por Valmir Nascimento Milomem
“O chamado é a verdade com que Deus nos chama para si mesmo tão decisivamente que tudo o que somos, tudo o que fazemos e tudo o que temos é investido com devoção especial, dinamismo e direção vividos como resposta à sua convocação e serviço”, Os Guinnes, The Call
Muitos de nós, cristãos, temos uma visão míope sobre o que realmente vem a ser o chamado de Deus para nossas vidas. A compreensão que se tem – geralmente – sobre esse assunto é que Ele simplesmente nos convoca para atuarmos como obreiros efetivos em sua obra, independente da profissão que tenhamos. Com efeito, a primeira imagem que nos vêm a mente quando imaginamos a convocação de Deus para trabalhar na sua seara é a de uma pessoa pregando dentro de um templo repleto de pessoas, ou então, trabalhando numa atividade missionária em outro país.
Eu, particularmente, por longo período pensei que quando a Bíblia falava em chamado estava inexoravelmente fazendo menção ao trabalho ministerial de pastores, evangelistas, ou presbíteros, e que, em determinado momento da vida a pessoa chamada por Deus, se obediente fosse, deveria abandonar sua carreira profissional e entregar-se completamente à obra.
É óbvio que muitos cristãos são chamados para atuarem como “levitas” de Deus. Ou seja, são vocacionados e separados para atuarem exclusivamente na obra. Paulo inclusive escreveu: “Quem almeja o episcopado excelente obra deseja ( Tm. 3.1). O apóstolo dos gentios ainda afirmou noutra ocasião que Deus deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros evangelistas, e outros para pastores e doutores (Ef. 4.11).
Entanto, havemos de concordar que o chamado de Deus para a vida do homem é bem mais amplo que a atuação por meio de cargos na igreja local. Mais que isso, o chamado divino envolve tudo o que somos, fazemos e investimos na obra, em qualquer local e momento. Tudo o que fizermos devemos fazer para a glória de Deus (I Cor. 10.31).
Afirmo, portanto, que atender o chamado de Deus e fazer a Sua obra não significa necessariamente ser um obreiro de tempo integral, e muitas vezes, não é preciso nem mesmo fazer parte do ministério eclesiástico.
Quero com isso dizer que todas as esferas de atuação do homem são campos onde o chamado pode e deve ser exercido, inclusive o local de trabalho dos fiéis, onde seus ofícios laborais são considerados por Deus como verdadeiros ministérios.
Sealy Yates, conta-nos Nancy Pearcey, com apenas vinte e cinco anos já havia realizado todos os seu sonhos. Formara-se em Direito, fora aprovado no exame da ordem dos advogados e arrumara um ótimo trabalho. Casara-se com uma mulher maravilhosa, e ambos se ocupavam na criação do primeiro filho. A vida era boa. Porém, faltava algo na vida de Sealy. Ele ainda não estava contente. Apesar do seu sucesso profissional ele ainda não se sentia plenamente feliz, não obstante ser um cristão autêntico.
Sealy tinha convicção da sua chamada para a obra e ainda por cima desenvolvia várias atividades na igreja em que congregava, mas mesmo assim sentia uma grande fome espiritual. A primeira coisa que passou pela sua cabeça foi exatamente sobre as dimensões da chamada divina: Será que deveria sair do trabalho e ir para o campo missionário? Refletiu Yates.
Segundo Nancy, assim como Sealy, a maioria de nós assimila a idéia de que servir a Deus significa em primeiro lugar fazer a obra de Deus. Se estamos engajados em outras áreas de trabalho, pensamos que servir ao Senhor significa amontoar atividades na igreja – coisas como cultos, estudos bíblicos, evangelismo – em cima de nossas responsabilidades existentes. A grande dificuldade dele era exatamente integrar a sua fé cristã à sua vida profissional. Nancy escreve:
“Onde está Deus em minha vida?, Sealy se perguntava. O que julgara que fosse depressão era um desejo atordoante de que seu trabalho secular tivesse um significado espiritual. Acrescentar atividades eclesiásticas a um trabalho de todo secularizado era com pôr uma moldura religiosa em um pintura secular. A tensão entre a fome espiritual e as exigências de tempo de trabalho puramente “secular” estava dilacerando-o por dentro”, p. 72.
Tempos depois Sealy vislumbrou a possibilidade de conjugar sua fé cristã com a sua atividade profissional. Ele percebeu que as pessoas consultam advogados quando estão passando por dificuldades; viu então que era uma oportunidade fenomenal para ajudá-las a fazer o que é certo. Portanto, Sealy passou a compreender que sua profissão de advogado era sobretudo um forma de ser usado por Deus na obra.
“Os advogados podem ministrar a cônjuges que procuram divórcio, orientar adolescentes em dificuldade com a lei, aconselhar homens de negócios em conflitos éticos para fazerem o que é certo, confrontar ministérios cristãos que estejam transigindo os princípios bíblicos. A advocacia não é somente um conjunto de procedimentos ou uma técnica argumentativa. É o meio de Deus confrontar o erro, estabelecer a justiça, defender os fracos e promover o bem público”.
Sealy descobriu, portanto, que advogar é muito mais que um modo de ganhar dinheiro e casos. É fundamentalmente um modo de exercer os próprios propósitos de Deus no mundo: promover a justiça e contribuir com o bem da sociedade. Ainda, percebeu que quando estamos em nossos trabalhos, estamos fazendo a obra de deus. Foi então que ele resgatou a alegria de viver.
Não é preciso abandonar o emprego para fazer a obra de Deus
Não é muito difícil encontrarmos cristãos convictos com o mesmo dilema de Sealy: como conciliar nossa atividade profissional com a chamada divina para a obra? Frente a essa indagação, a atitude que geralmente se toma é abandonar o trabalho para atuar no campo eclesiástico. Repito, Deus realmente chama alguns para trabalharem exclusivamente na obra, no entanto, atuar efetivamente na obra não é o único meio de obedecer ao chamado e aos propósitos de Deus em nossas vidas.
Recentemente, por exemplo, um colega obreiro, muito bem sucedido no ramo profissional por sinal, confessou-me que o seu “tempo estava chegando” e que em breve haveria de abandonar o seu trabalho para dedicar-se exclusivamente à obra. Não adentro ao mérito da chamada de Deus para a vida do meu amigo. Se o propósito de Deus para a vida dele é ou não o ministério de tempo integral é algo que não me compete opinar, afinal, quem deve saber da vontade de Deus é o vocacionado. Porém, o que faço questão de ressaltar, e isso eu posso fazer, é sobre a necessidade de o cristão atentar para o fato de ser perfeitamente possível conciliar chamada divina com atividade profissional.
Tenho ciência de cristão convictos que fazem de seus ofícios verdadeiros ministérios. Outro dia conversei com um colega advogado, cristão convicto e também bem sucedido no seu trabalho. Em nossa conversa ele me dizia que possui um local separado em seu escritório onde são guardados os panfletos de evangelismo pessoal e que todos os clientes que entram no seu escritório, a primeira consultoria que ele dá é sobre a necessidade da pessoa aceitar a Cristo. O interessante é que ele não vê o trabalho unicamente como o seu ganhão pão. Mais do que isso, pra ele, o trabalho é sobretudo um forma de cumprir a ordenança de Cristo de pregarmos o evangelho a toda a criatura e de sermos sal e luz na terra.
Conheço também jornalistas que da mesma forma cumprem seus trabalhos ao tempo em que fazem a obra de Deus. Pessoas que fazem de suas atividades profissionais campo de atuação missionária, colocando opiniões verdadeiramente bíblicas em um mundo cada vez mais secularizado. E é exatamente disso que a igreja cristã necessita: estar atuante em todas os estratos e camadas da sociedade, com pessoas capacitadas para defender o pensamento cristão. Devemos compreender que a responsabilidade da igreja vai além da mera realização de “eventos espirituais” e agendas festivas, sobretudo, ela é responsável por redimir toda uma cultura em decadência e implantar o padrão bíblico de vivência. Seus princípios devem se inserir em todos os campos de atuação do homem. Seus fundamentos precisam adentrar nos vários extratos sociais e intelectuais da sociedade, numa síntese daquilo que disse Cristo: “Vós sois do sal da terra e a luz do mundo”. E isso é feito principalmente no campo profissional, onde as pessoas passam a maior parte de suas vidas.
Apesar de ter mencionado somente o advogado e o jornalista, toda atividade profissional tem potencial para servir como instrumento nas mãos de Deus. Do médico até o vendedor. Do juiz até o prestador de serviços. Do farmacêutico até a secretária. Enfim, todo ofício pode ser usado na obra de Deus. O erro é quando as pessoas imaginam que suas atividades nada tem que ver com a obra de Deus, ou por não verem nenhum relacionamento com o mundo espiritual ou então por acharem suas profissões pequenas demais para tal propósito.
Na primeira desculpa, a pessoa faz um separação entre aquilo que professam e aquilo que vivem. Nancy Percey chama isso de divisão entre o público e o privado. Ou seja, é como se a religião estivesse adstrita à área privada, e somente poderia ser professada dentro da igreja, caso em que não precisaria chegar no local de trabalho do indivíduo.
Quanto à segunda objeção, a pessoa não se vêm como instrumento de Deus. Outro dia, enquanto ministrava uma aula onde falávamos sobre a atuação plena dos cristãos em todas as áreas da sociedade, um dos nosso alunos, professor do ensino médio, levantou e disse:
– Nós, cristão, precisamos eleger políticos para defender a causa cristã junto ao Poder Legislativo.
Após sua fala, argumentei:
– Realmente, professor, precisamos de mais políticos no poder legislativo para aprovar leis condizentes com a Palavra de Deus, mas também, precisamos de professores cristãos lecionando na escolas seculares, defendo o evangelho e formando crianças, adolescentes e jovens segundo as verdades bíblicas, com capacidade para refutar vários ensinamentos que tentam ensinar para os nossos jovens atualmente. Precisamos de médicos cristãos que possuam postura segundo a palavra de Deus. Precisamos também de jornalistas publicando textos em defesa do evangelho. Enfim, precisamos do cristãos em todos os ramos profissionais.
Vi o momento em que o professor sentou-se em sua cadeira e começou a pensar no que eu acabara de falar.
A questão é que ele, assim como um infinidade de pessoas, não via a importância que tinha a sua profissão. Pensava que era uma atividade pequena, de somenos importância, quando em verdade era fundamental para a anunciação do evangelho, por meio da educação.
Termino aqui a primeira parte deste assunto. Na próximo artigo, em continuidade, abordarei o que vem a ser a atuação profissional como um chamado divino, será que é somente ser ético? Vejamos.
olá pastor Valmir..gostaria de saber como é que
podemos entrar nesse projeto de divulgação de
blogs cristãos. Se possível, entre em contato
aqui por esse blog ou então mnade um recado
em http://gqlgeracaoquelamba.blogspot.com
abraços
Soli Deo Gloria
Victor,
A proposta para a criaÇão da associaÇão dos blogueiros cristãos esta em andamento. Fique no aguardo…e na bençao de Deus.
Valmir
Pastor Valmir, sou o Gutierres Siqueira do
Blog Teologia Pentecostal, tenho acompanhado
o seu blog e fico feliz pelo conteúdo de
cosmovisão cristã, assunto que muito me inte-
ressa!
Quero participar da campanha blog cristão!
Olá Gutierrez,
Obrigado pela sua participação.
Também sempre acesso o seu blog, um excelente trabalho por sinal.
Sobre a campanha dos blogs, estamos na fase de discussão, quando finalizarmos, avisamos.
Graça e Paz
Valmir Milomem
Kharis kai eirene.
Por vocação ou chamada (do grego kleseous – Ef 1.18) entende-se aquele ato gracioso de Deus pelo qual Ele convida os pecadores a aceitarem a salvação que se oferece em Cristo Jesus. É obra do Deus Triúno, sendo por isso atribuída ao Pai (1 Co 1.9; 1 Ts 2.12; 1 Pe 5.10), ao Filho (Mt 11.28; Lc 5.32; Jo 7.37) e ao Espírito Santo (Mt 10.20; Jo 15.26; At 5.31,32). É uma vocação, através da pregação do Evangelho, onde Deus proclama a todos os homens que se arrependam e creiam no sacrifício vicário de Cristo (Mt 28.19; Mc 16.15; 2 Tm 1.9-11; At 2.38; 1 Co 1.23,24). Muitos, porém, não aceitaram esse chamado (At 13.46; 2 Ts 1.8-10; Jo 1.10,11). É uma vocação que opera para a salvação, baseada na própria escolha do homem (At 13.46-48). Esta é a doutrina do chamado de Deus. A graça de Deus é exaltada, não apenas na provisão da salvação, mas também na oferta da salvação aos imerecedores. Podemos definir o chamado de Deus como o ato da graça pelo qual Ele convida os homens a aceitarem, pela fé, a salvação providenciada por Cristo.
Esdras Bentho
Esdras,
Muito obrigado por suas palavras.
Valmir Milomem
Caro amigo blogueiro..que prazer ter encontrado essa matéria, não sabia da existencia desse assunto no blog que visito sempre. mas fui buscar no Google..e olha só quem encontro…
Muito bom amado,
Abraços,
JB
http://www.joaobosco.wordpress.com
Jota Bê,
Esse é um assunto que precisa ser abordado em nossas igrejas. Nosso cristianismo não pode estar restrito aos muros de nossas igrejas. E nossas profissões devem ser encaradas como meios de se cumprir o IDe do Senhor Jesus.
Na paz
Valmir
Hoje pela prmeira vez enontrei essa matéria, gostei muito e quero saber onde se encontra a de número 2. A continuação do assunto.
A Paz do Senhor
J. Alfran
Desejaria receber artigos por E-mail.
A Paz do Senhor
J. Alfran
valmir,
encotrei o seu artigo numa fase de mais dilemas da minha vida, sou academico do curso de enfermagem , na UEMS, e a tempos eu sinto um vontade grande de fazer teologia, no ensino medio era uma opção após a faculdade, hoje apos um congresso que eu participei de jovens e adolescentes batistas, a teologia, o fato de ser pastor , tem crescido dentro do meu, coração, e algo me diz que eu cuidarei de pessoas mas nao o fisico mas o espiritual, o tema desse congresso era chamdos para fazer a diferença, e isso falo comigo do momento que cheguei a igreja ate o temino do congresso, como fazer, mesmo sabendo que na minha futura profissão , enfermeiro, poderei ajudar fisicamente sabendo que algumas doenças são do espiritual e emocional? ja conversei com amigos que fazem teologia, qua seria sua opinião?
esperando resposta via email…
mateusduarte_08@hotmail.com