por Valmir Nascimento Milomem
Vivemos na época do ‘auto’. Auto-ajuda, auto-estima, auto- análise, auto-aceitação, auto-afirmação, autoconfiança, auto-isso e auto-aquilo. O ego é o centro das atenções. O espetáculo da atualidade. O senhor de tudo. O remédio para as mazelas. A solução para os problemas.
Estás desanimado? Auto. Estás deprimido? Auto. Estás abalado? Auto. Queres progredir? Auto. Queres um amor? Auto. Queres prosperidade? Auto. Queres amigos? Auto.Anseias felicidade? Auto. Precisas de alegria? Auto.
Essa é a receita para o sucesso: Ame-se. Goste da sua pessoa. Apaixone-se por você. Adore-se. Descubra-se. Confie em si. Afinal, você é a pessoa mais importante desse mundo e se você não gostar de si mesmo, quem vai gostar então? Argumentam.
Essas alegações estão por todas as partes. Você as lê nas revistas, ouve-as na mídia e escuta-as, principalmente, nas palestras acerca do sucesso. Ela tem sido difundida, apregoada, utilizada e finalmente, endeusada.
Martin & Deidre Bobgan argumentam que as fórmulas do valor próprio, do amor-próprio e da auto-aceitação escorrem do tubo da televisão, fluem pelas ondas do rádio e seduzem através da publicidade. Do berço ao túmulo, os defensores do ego prometem a cura de todos os males da sociedade por meio de doses de auto-estima, valor próprio, auto aceitação e amor próprio. E todo mundo, ou quase todos, repetem o refrão: “Você só precisa amar e aceitar a si próprio como você é. Você precisa se perdoar”, e: “Eu só tenho de aceitar-me como sou. Eu mereço. Eu sou uma pessoa digna de amor, de valorização, de perdão.”
Atualmente, portanto, existe um forte voz que ecoa pelos quatro cantos da terra informando-nos que o nosso problema é não pensarmos suficientemente bem a nosso próprio respeito, que pensamos pequenos demais, que temos uma imagem negativa, e que nossa maior necessidade é elevarmos a nossa auto-estima.[2]
O livro do médico-palestrante-conferencista-escritor-Dr. Lair Ribeiro “O sucesso não ocorrer por acaso”, por exemplo, está repleto dessas argumentações. Segundo esse palestrante do sucesso “Somos a força criadora da nossa vida. Comece já a rescrever sua história com as cores do sucesso, conquistando aquilo que você realmente deseja”. “Ouse fazer, e o poder lhe será dado!”[3].
Não é à toa, portanto, que essa idéia ganha mais e mais adeptos. O livro acima citado, anote-se, vendeu mais de 1.700.000 (Um milhão e setecentos mil) exemplares em trinta e cinco países. Sem falar de outros best-sellers que explodem pelo mundo afora, cujos assuntos que tem como foco a auto-ajuda, como por exemplo o recente sucesso “O Segredo“
Por que? Ora, a idéia do poder pessoal e do amor próprio seduz as pessoas. Diz aos indivíduos que eles são autônomos e independentes. Alega que se confiarmos em nós mesmos recebermos tudo o que quisermos; seremos felizes e, sobretudo, prósperos.
Quem não gosta de algo mágico como esse? Essas afirmações seduzem o homem e massageiam o ego, tornando-os donos de seus próprios narizes. Responsáveis por seus próprios destinos.
Uma pequena anotação
Antes de adentrar, porém, ao mérito desse assunto, devo ressaltar que este texto não defende o pessimismo nem advoga o pensamento negativista do tipo “tudo vai dar errado”. Inegavelmente, as pessoas necessitam dispor de um mínimo de bom senso. Precisam acreditar no seu potencial e trabalhar em prol da melhoria pessoal, profissional, familiar, e, principalmente, espiritual.
Os indivíduos que negligenciam isso relegam tudo ao acaso, ou esperam que tudo caia do céu. Mantêm-se inertes e desprovidos de iniciativa. Consideram-se incompetentes e inabilitados parar executar qualquer tipo de tarefa que lhes seja exigido. Mantêm-se trancafiados nos casulos do “não consigo”, “não posso” e “não tem jeito”. Assim, suas vidas não progridem. Suas habilidades não se desenvolvem.
Por outro lado, à luz do Livro dos Livros, não se concebe o pensamento egocêntrico; o qual considera o homem como sendo o solucionador de todo o caos. A panacéia geral que trará a resolução às moléstias, prosperidade e felicidade.
Baseado nas Escrituras Sagradas não é possível aceitar que a auto-estima seja a chave para felicidade do ser humano. Como se o amor próprio fosse mais importante que o próprio Deus. Cuja lógica nos levaria a pressupor que somos mais importantes que o Criador.
Qual o problema em amar a si mesmo?
Nesse ponto do texto você pode perguntar: Qual o problema em gostar de si mesmo? Qual o erro do amor-próprio? Qual o pecado da auto-estima?
Respondo: O problema não está no simples fato de gostar de si mesmo, afinal, Deus nos dotou do instinto de auto preservação e auto defesa, capacitou-nos com o senso de cuidado pessoal. Paulo colocou esse sentimento como sendo algo natural: “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e cuida, como também o Senhor à Igreja”.
(Ef.5:29). Em outras traduções, lê-se: “Porque ninguém jamais odiou a sua própria carne (…)”.
O problema, por outro lado, reside no extremo que as pessoas têm levado o amor próprio. Tem-se usurpado a naturalidade e beirado os limites do egocentrismo, individualismo, humanismo, e, finalmente, a divindade pessoal.
Os idealizadores da “cultura do amor-próprio” partem da premissa de que o homem, naturalmente, odeia a si mesmo. Pressupõem que o ser humano só não é bem sucedido porque possui em seu intimo um ressentimento; uma briga pessoal interna. Seus objetivos de vida, portanto, não são atingidos em virtude dessa constante auto-depreciação.
A auto-estima, diz Lair Ribeiro, “é fundamental na conquista do sucesso. Se você não gosta de si mesmo, como vai convencer os outros a gostar? Não adianta se cobrir de ouro, usar roupas finas, se a auto-estima estiver baixa. O problema é que o modo como fomos criados nos leva a não gostar de nós mesmos. Nossa estrutura nos torna autocríticos demais”.
Segundo Dave Hunt esse fundamento é, em sua essência, inverídico. É óbvio que há um grande número de pessoas que expressam graus variados de auto-depreciação. Porém, é fácil perceber que na realidade tais pessoas não odeiam a si mesmas. Aqueles que dizem: “Eu sou tão feia que eu me odeio!”, não se odeiam de verdade; caso contrário eles mesmos estariam contentes por serem feios (Afinal eles não se odeia?). É exatamente porque amam a si mesmos que ficam perturbados com suas aparências e com a maneira pela qual as demais pessoas reagem a eles.[5]
Hunt prossegue com outros exemplos:
“A pessoa que geme em meio à depressão e diz que se odeia por ter desperdiçado sua vida estaria de fato feliz por ter desperdiçado a sua vida, caso se odiasse de verdade. O fato é que a razão a de estar infeliz por ter desperdiçado a sua vida é seu amor a si mesma. O criminoso aparentemente carregado de remorso, que diz odiar-se pelos crimes que cometeu, deveria então estar feliz por estar sofrendo na prisão. No entanto, espera escapar a esse destino, o que prova que ele se ama. Assim acontece com a pessoa que tira a própria vida. A maior parte dessas pessoas considera o suicídio uma fuga; mas quem ajuda alguém a quem odeia, a fugir? O suicídio é o ultimo ato do ego tentando escapar às circunstâncias sem consideração alguma por qualquer outra pessoa”.[6]
A pessoa, portanto, que se deprecia constantemente, não se odeia de fato, tampouco tem uma auto-imagem inferior; ao reverso, ela está simplesmente informando aos demais que seu desempenho não está em conformidade com os padrões que ela mesma estabeleceu para si. Isso, evidencie-se, não é um sintoma de auto-estima deficiente, contrariamente, é o outro lado da moeda do orgulho. [7]
Neste mesmo sentido, A.W. Tozer explica que a auto-depreciação é ruim pela simples fato de que o ego está ali para ser depreciado. O ego, quer se exalte, quer se deprecie, não pode ser qualquer outra coisa senão detestável para Deus. A vanglória é então a prova de estarmos satisfeitos com nosso ego; a auto-depreciação, ao contrário, é a prova de que estamos desapontados com ele. Em qualquer um das formas revelamos que temos uma opinião muito positiva a nosso próprio respeito.[8]
Destarte, a alegação de que o homem se odeia por natureza, é uma grande farsa. A auto-depreciação é em outras palavras o grito de lamúria do homem, que se ama na sua essência (lembremos das palavras de Paulo), e que não conseguiu atingir o ápice de seus desejos, projetos ou sonhos. Caso o homem realmente não se amasse, a humanidade estaria completamente dizimada; assassinadas pelos seus próprios “eus”.
Ocorre que uma avalanche dessa farsa junto às fórmulas psicológicas e psicoterápicas de auto-estima vêm sendo despejadas nas cabeças dos indivíduos. A entronização desse assunto é tão comum que se brincar até mesmo os cães estão com seus egos mais elevados, resultado dessa crescente idéia egocentrista.
Até bem pouco tempo o homem tinha a ciência de que a principal razão de sua vida compreendia essencialmente a necessidade de voltar sua mente para Deus, o Criador. Hoje, no entanto, aplacou-se a idéia de que o homem deve voltar-se cada vez mais para si mesmo. Antigamente a sociedade, apesar de seus constantes erros, tinha a convicção de que a superação para as mazelas estava em Cristo. Atualmente acredita-se que a solução está dentro de cada cidadão.
Em meio a todo esse cenário, uma coisa é certa, a Palavra está se cumprindo. Como disse Paulo:
“Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus”. II Timóteo 3.1-4
Dependência ao Criador
Uma das primeiras lições que Deus ministrou aos israelitas no deserto foi acerca da dependência a Ele. Todos os dias pela manhã Deus enviava o maná para o seu povo – a única refeição que eles dispunham para se alimentarem. As pessoas deveriam pegar o maná somente para o mesmo dia, não podiam
estocar o alimento, pois certamente apodreceria. A única exceção era na sexta-feira que poderia apanhar alimento para o sábado também.
Acontece que essa situação deixava os israelitas completamente dependentes. “E se não vier maná amanha?”. “Será que Deus vai enviar alimento?”. Essas, com certeza, eram algumas dúvidas que pairavam na mente de alguns judeus, demonstrando claramente a falta de confiança no Criador. Eis o motivo pelo quais alguns deles tentaram armazenar o alimento, o que resultou numa experiência frustrada, é claro.
Ficar dependente de alguém é algo que as pessoas não querem; precisar dos outros é a ultima coisa que desejamos seja financeira, afetiva ou fisicamente. A doutrina da auto-ajuda tenta acabar exatamente com essa dependência, na medida em que joga para a si o senhorio da vida. Objetiva quebrar o elo de ligação que nos une ao Todo-Poderoso.
Assim, ao invés das pessoas buscarem a ajuda do alto, elas buscam a auto-ajuda. Ao invés de perseguirem o estima dos céus, partem no caminho da auto-estima. Ao contrário de amar a Deus e ao próximo, engendram meios de amarem a si mesmos.
Essas pessoas agem como aquela criança nos braços do pai, dizendo a ele: “Eu não preciso de você, eu necessito somente de mim”.”Basta somente eu confiar no meu potencial, o resto não importa”. Exato! Como pirralhos, dizem que já são crescidinhos e donos do próprio nariz. Ignoram aquilo que lhes dá o suporte, o amparo, a respiração, a vida.
Ademais, devemos observar que Jesus não nos convidou para amar a nós mesmo, mas sim para um relacionamento de amor com Ele e para com os próximos. A alegria dos homens deve ser encontrada nEle, não em si mesmos. O amor vem de Seu amor por eles. Assim o amor deles, de um para o outro, não vem do amor-p
róprio e da auto-estima, tampouco aumenta a auto-estima. A ênfase está na comunhão, na frutificação e na prontidão para ser rejeitado pelo mundo.
E conforme bem disse Deidre Bobgan: Somente através da semântica forçada, da lógica violentada e da exegese ultrajada alguém pode querer demonstrar que a auto-estima é bíblica ou mesmo parte da tradição ou do ensino da igreja. Aliás, auto-ajuda e ajuda do alto são completamente contraditórios.
A auto-ajuda diz pra você se auto-afirmar. A ajuda do alto pede pra você se negar. A auto-ajuda diz pra você se aceitar. A ajuda do alto pede pra você se renunciar. A auto-ajuda diz que você tudo pode. A ajuda do alto diz que sem Ele você nada pode fazer. A auto-ajuda diz pra você confiarmos em si mesmo. A ajuda do alto pede pra você confiar no criador. A auto-ajuda diz para você carregar os seus valores. A ajuda do alto pede pra você carregar a sua cruz.
Graça e Paz!
Fico feliz em ver um blog, tão interessante, repleto de informações as quais muitas das vezes as pessoas teem dúvidas.
A Paz do Senhor!
Puxa, que lindo esse estudo sobre auto ajuda e ajuda do alto. Ah, se as pessoas buscassem mais pela ajuda do alto… a vida do cristão refletiria mais a Glória de Deus! Fico feliz qdo vejo a preocupação dos irmãos em escrever q devemos ter total dependencia d Deus. Que Deus continue lhe dando muita sabedoria. Um abraço e muita paz…
A Ajuda do Alto não deixa de ser uma auto-ajuda, pelo simples fato de o indivíduo buscar se encontrar com Deus. A pessoa que busca melhorar através da auto-ajuda inevitavelmente irá se encontrar com as verdades do Criador. Isso é fato.