Por Valmir Nascimento Milomem
“Nem todo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aqueles que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Mt. 7.21
Assim como as roupas e os acessórios tecnológicos as palavras também entram ou saem de moda. Tudo depende do anseio social e da forma como a sociedade caminha. Uma dessas palavras chama-se “espiritualidade”. Espiritualidade é um expressão moderna, charmosa e que impressiona pelo seu vigor. É um termo que demonstra a ligação do homem com algo eterno e superior. Refere-se ao estado místico das pessoas. Por outra via, “religião” é uma palavra em franco declínio no meio social, cada dia mais ela é relacionada com radicalismo, fanatismo, exclusivismo, indiferença e intolerância. A tendência, portanto, são as pessoas se auto-intitularem como espirituais, mas não, religiosas.
Essa realidade não é somente brasileira, conforme alerta Nancy Pearcey hoje os americanos são menos propensos a usar o termo religião, preferindo o termo espiritualidade. A revista American Demographics observou que seis palavras estão se tornando o mantra do novo milênio: “Gosto de espiritualidade, não de religião”. Pearcey afirma ainda que a palavra Religião refere-se ao reino público das instituições, denominações, doutrinas oficiais e rituais formais, ao passo que espiritualidade está associada ao reino particular da experiência pessoal.
Muitas pessoas entram na onda da espiritualidade simplesmente para se eximirem de uma culpa interior. Um necessidade humana de buscar o divino e com isso pagar a sua dívida espiritual, posto que a Bíblia declara que Deus se revela por meio de suas obras na terra (Rm. 1.20) e, que, portanto nenhum vivente se escusará de não conhecê-lo. Outros, ainda, buscam uma “nova espiritualidade” por seu uma questão da moda, seguindo com isso os seu gurus espirituais.
Apesar de possuir conotação bíblica essa onda “espiritualista” destes últimos dias nada tem de relacionamento com a Palavra de Deus. Ao se observar de perto esse fenômeno observa-se que possui as seguintes características:
A espiritualidade moderna não busca compromisso
A prática e a defesa dos valores de relacionamentos baseados em compromisso, em verdade, são cada dia mais ausentes da sociedade. O casamento, por exemplo, tornou-se mero formalismo. É comum pessoas que se dizem casadas viverem em casas ou apartamentos diferentes, sob o pretexto de liberdade. Na verdade as pessoas não querem o ônus do compromisso, não suportam arcar com os deveres de um relacionamento verdadeiro. De maneira idêntica, para o “espiritualista” moderno Deus nada exige, Ele não cobra de ninguém, e os deveres para com Ele são invenções humanas. Deus é simplesmente alguém que está disposto a ouvir as orações e as rezas do ser humano para que este se sinta bem, mas nunca irá exigir deles uma forma de conduta perante a sociedade.
Ocorre que a Bíblia fala de um Deus que em todos os tempos e épocas buscou meios de se relacionar com o homem, em resumo, a Palavra de Deus é exatamente isso.
Acontece que a própria compreensão do que seja relacionamento envolve compromisso entre os envolvidos. Relacionamentos sem compromisso não existem. Pode até possuir aparência de relacionamento, mas no fundo o que existe é um mera conveniência, como aquele casal que vive sob o mesmo teto mas cujo casamento terminou tempos atrás. E o “homem espiritual moderno” vive desta forma: fundamentado numa mera conveniência social, em que o verdadeiro Deus não participa.
A espiritualidade moderna não se importa no que se crê e sim como se crê
Para o homem espiritual moderno o mais importante é ter fé. Freqüentemente houve-se dizer: “Precisamos simplesmente acreditar em alguma coisa” ou, ainda, “Basta simplesmente crer”. Com base nesse pensamento, argumenta-se que ter fé é o bastante. Independente no que ou em quem a pessoa crê. Basta simplesmente acreditar. Não importa a que religião você pertença ou que crença tenha. O importante, dizem, é ter fé em alguma coisa.
Esse tipo de pensamento leva as pessoas para um caminho obscuro, cujo final é um mundo imaginário e sem saídas. Fazendo as pessoas terem fé em qualquer coisa ou em nada. Fé sem objetivos. Fé sem fundamentos. Fé tola.
Essa fé coloca o resultado da crença não naquilo em que se crê (objeto da fé) e sim na intensidade da fé ou no quanto se crê. Pouco importando em quem ou no que se acredita. Não se leva em consideração os fundamentos da fé. Não se analisa. Não se pensa. Não se investiga. Simplesmente crê!
No âmbito dessa concepção, diferença não existe entre ter fé em Cristo e fé num boneco qualquer. Tanto vale ter fé em Deus, Criador soberano, quanto em qualquer deus da mitologia grega. Disparidade não há entre crer na Bíblia, fonte histórica e inspirada e crer em rabiscos psicografados. Não existe diferença entre ter fé em algo consistente e ter fé em xongas. O importante é ser espiritual!
O contexto atual é de surgimento de novas crenças. Religiões são criadas. Deuses sãos inventados. Templos são abertos. Basta escolher aquele tipo de fé que se encaixe ao seu perfil. Que te faça sentir bem. Que te deixe em alto astral. E depois, é só crer!
Será que esse pensamento é correto? Será que tal entendimento é lógico? O simples fato de ter fé é o suficiente? O que mais vale? A fé ou o objeto da fé?
Não. Não é necessário muito esforço mental para responder que tal pensamento está completamente equivocando, pra não dizer absurdo. Se o simples ato de crer for o suficiente, então não precisamos de Deus. Não precisamos de Cristo. Não precisamos de ninguém. Basta ter fé.
A Bíblia é bem clara de que na relação pessoa > fé > objeto (aquele ou aquilo em quem se crê) o que mais importa não é o tamanho da fé e sim o objeto da fé. Sendo assim, de nada adianta ter uma enorme fé em algo que não tem o poder de salvar ou transformar. De nada vale, crer incondicionalmente num objeto sem força, incompetente ou incapaz. Ou ainda, de nada valerá crer em algo que somente existe na imaginação das pessoas. Cristo demonstrou isso com as seguintes palavras: “E todo aquele que vive, e crê em MIM, nunca morrerá” João 11:26; “Quem crê em MIM nunca terá sede” João 6:35. “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em MIM tem a vida eterna.”João 6:47. (Grifei).
Nas palavras de Jesus o mais importante era o objeto da fé (Ele) e não o tamanho da fé da pessoa, tanto que em outra ocasião (Lc. 17.6) argumentou que uma fé do tamanho de um grão de mostarda traria resultado.
Vejamos ainda o exemplo de Elias e os profetas de Baal. Crendo em Deus Elias enfrentou os profetas de Baal e de Asera. Esses, possuidores de uma gigantesca fé no seu deus Baal, invocaram-no da manhã até à tarde, sem no entanto, receberem uma resposta. Gritavam, saltavam e até se cortavam com facas na espera de um retorno. Demonstraram uma fé enorme; uma crença admirável; digna de elogio; porém, uma fé tola; uma fé em xongas. Criam num objeto inanimado, incapaz, sem poder nenhum. Não falava, não agia, não transformava.
Elias até zombou deles, dizendo:
Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem. Talvez esteja dormindo e despertará.
Elias, o profeta de Deus, por outro lado, se aproximou, e disse:
Ó Senhor Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo conheça que tu és o Senhor Deus e que tu fizeste voltar o seu coração.
Uma oração simples, porém, baseada numa fé correta e direcionada ao Deus verdadeiro. Então, diz as Escrituras, caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, o pó e ainda lambeu a água que estava no rêgo. O que vendo todo o povo, caíram sobre os seus rostos e disseram: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!” (1 Reis 18:19-39).
Os profetas de Baal, pelo que se depreende do texto bíblico, tinham mais fé em Baal do que Elias tinha no Deus dos judeus. No entanto, o diferencial não estava no tamanho da fé, e sim em quem a fé era direcionada.
O homem espiritual, segundo a Bíblia
A Bíblia faz distinção entre o homem natural e o homem espiritual. Paulo em 1Corintios. 2:14 diz que o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido”. Quando a Bíblia fala em homem espiritual ela esta fazendo menção ao homem que é guiado pelo Espírito Santo de Deus, e não pela carne. Paulo, ainda, em Romanos 8.14 diz “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus“.
Em síntese, o homem espiritual segundo a Bíblia:
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Foi crucificado em Cristo, e vive não mais ele, mas Cristo é quem vive na vida dele (Gl. 2.20);
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Têm compromisso e é fiel à Deus (2Tm 2.13);
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Não se conforme com este mundo (Rm. 12.2)
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Sua fé é eminentemente baseada em Cristo (Rm. 3.26, Apoc. 14.12)
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Tem coragem de ser pesado na balança de Deus (Jó 31.6)
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Tem coragem de ser sondado por Deus (Sl. 139.23)
Pb. Valmir Nascimento Milomem
NOTAS
PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta. CPAD. 2006, p. 133.
Este post especialmente e chamou a atenção, afinal sou um dos que prefiro me definir como espiritual à relioso, de fato preferi chamar esta seção do meu blog de espiritualidade no lugar de religião, cristianismo, etc
isto porque como alguem já disse, “religião é o homem tentando buscar Deus, por isto existem muitas religiões, evangelho é Deus buscando o homem, por isto existe um só evangelho”
Ser disciplo de Cristo é auito mais que seguir uma religião.
Parabéns pelo blog
Ricardo,
Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário.
Quando falo sobre espiritualidade moderna, digo respeito aquele tipo de relacionamento “faz-de-conta” do homem para com Deus. A Bíblia fala para ser espirituais, como sinonimo daquele que é guiado pelo Espírito de Deus.
Valmir Nascimento
Kharis kai eirene.
Prezado amigo e irmão Valmir Milomem, muito obrigado por suas palavras motivacionais. A recíproca é verdadeira, seu blog, o qual recomendarei aos meus amigos da blogsfera é oportundo e trata de assuntos contundentes. A frase “a espiritualidade moderna não busca compromisso” é pertinente.
Colocarei um link no Teologia e Graça de seu blog. Gostei de suas fotos no IBAD, espero conhecê-lo pessoalmente um dia. Espero que essa amizade em Cristo seja frutífera.
Em Cristo
Prezado Esdras,
É uma enorme satisfação tê-lo aqui em nosso blog. Também, da mesma forma, espero conhecê-lo pessoalmente e que possamos nos ajudar mutuamente na defesa da fé cristã nos dias atuais.
Em cristo
Valmir Nascimento Milomem
Esse texto é sensacional!
Motivador, coerente e confrontador.
Precisamos de mais cristãos que sabem quem são, no que crêem e para onde estão indo. Parabéns pelo blog!
Juliana Verly
Juliana,
Muito obrigado por sua visita, obrigado mesmo!
Concordo com suas palavras, precisamos realmente de mais cristãos que compreendam sua identidade, propósito e destino, e isso somente acontece a partir do conhecimento pleno das Sagradas Escrituras.
Volte sempre e compartilhe conosco suas opiniões.
Valmir Nascimento Milomem
me ajudou no trabalho que estou fazendo sobre espiritualidade, obrigado